Foi você, morena
quem me fez sonhar
e pensar que tudo seria um par,
um lar com jardim
sempre chegada e nunca partida
Vai
Que a saudade dói no coração
De quem tem peito demais
Para viver uma vida
Em despedida
E não vá acusar o destino
pois o vento guia a caminhada
os desatinos do tempo são companheiros
de quem tem o horizonte como chegada.
Então vem
Que a saudade encontra a paz
Quando a gente se encontra
e que o desassossego de não estar
é uma lembrança que nunca vai embora
quando sempre se espera a volta.
19 maio 2012
Retorno
02 março 2012
Um sopro
Toda a noite é o mesmo frio. Um frio seco e áspero, como lixa desgastando o viver. Pouco a pouco congelando a esperança, transformando-a em floco de neve que, teimando em ser mais pesado que o querer se perde entre tantos outros flocos.
E o frio vai tornando tudo mais difícil, mais distante, mais opaco. O futuro é só uma lembrança distante, algo que nunca chega e, ainda assim, já passou faz tempo. Não há verão, outono ou primavera; invernados os ponteiros do relógio e tudo se torna árido. Houve vida um dia, hoje apenas se ouve o silêncio do tempo.
Mas nessa noite eu deixei aberta a janela do desejo e me soprou, leve e aconchegante, uma brisa. Desagasalhei o coração para que, livre todas as camadas de proteção que os desamores nos fazem carregar, pudesse mais uma vez sentir o beijo suave do vento.
Quanto mais a brisa sopra, mais poças se formam pelo descongelar da esperança. Nelas se reflete o brilho incandescente da paixão. Há, nesse solo nu, sementes. Alguma há de vingar. Florescer e frutificar é preciso. Que seja primavera.
Do frio de toda noite, me dispeço.
02 fevereiro 2012
Atrasado, mas sem pressa
26 janeiro 2012
Nesses últimos dias
Então que eu lhe encontrava com um rosto de alegria, como se finalmente houvesse chegado o herói. Você se sacudia para se libertar das gotas d'água que insistiam em ficar presas em ti. Depois olhava pra mim, ria e me abraçava. Do seu jeito, meio desengonçado. Eu achava graça. Voltava pra cama e dormia mais leve.
Eu tinha lhe prometido algumas coisas. Nunca mais poderei cumpri-las. Nunca consegui dar aquele passeio na praia. Fico pensando com seria você todo sujo de areia, correndo de um lado pro outro. Será que gostaria das ondas? Ao contrário do que acontece normalmente, você gostava de banho. Se divertia. Quem sabe corresse atrás dos caranguejos. Tenho certeza que colocaria a língua pra fora e deitaria com menos de meia hora. Essa seria a hora de conversarmos e eu lhe explicaria algumas coisas que você não entendesse. Mas agora sou eu quem não entendo.
Não entendo porque a decisão a ser tomada foi exatamente a pior. Não entendo porque nunca me dão ouvidos. Nunca soube o que é ter dado uma opinião. Nunca saberei como teria sido ir a praia contigo.
Esses dias também choveu a tarde. Lembro que eu lhe chamava pra passear e quando me preparava... caia a chuva. Não demos nosso último passeio. Nem nunca mais passamos uma noite no quintal, entre lua e estrelas, vinhos e vela. Talvez um livro, talvez música. Quase sempre você acabava dormindo, mas era só eu pensar em me levantar da cadeira que você despertava. Isso era bom. Um dia entenderei porque decidiram que não seria mais. Não existiria mais.
Como todo mundo que conheço bem, você tinha suas manias. Achei tão estranho chegar em casa e não te escutar. Não poder falar com você. Não poder rir com você. Deve ter sido por isso que ao chegar em casa me tranquei no quarto, sozinho, e chorei. O silêncio me fez vazio. Dormi.
Não tinha esperança de lhe encontrar quando acordasse. Todas as esperanças foram embora desde o momento que lhe procurei pela casa e não te encontrei. Entendi o que aconteceu, mesmo sem querer acreditar. Foi covardia o que fizeram. Isso não tem perdão.
Os dias vão se seguir, um após o outro. Para mim. Para você, os últimos foram aqueles dias de chuva...