07 novembro 2011

Des-cama.

      Madruga de sábado para domingo, quase meia noite. Horário de criança estar dormindo, diriam alguns pais. Pra mim é horário de cumprir uma pequena função familiar. Ser o único habilitado a dirigir um carro nessa hora da noite tem esse tipo, por assim dizer, contratempo. Conferindo: chave, carteira, celular. Tudo pronto. Se o trânsito e os furadores de sinais vermelhos permitirem, não levarei mais do que 25 minutos no trajeto de ida e volta.

      A noite está bem fria, parece até inverno. Não venta, mas também não estou com calor. Não se vê uma estrela no céu, tudo coberto por nuvens que variam do cinza claro até um branco encardido. A lua deve ter aproveitado pra tirar folga pois não foi possível vê-la. Todas as noites deveriam ser assim. Quer dizer, quase todas. Noite de lua cheia não deve ter nuvem. Nas outras noites poderia ser assim: nublado, fresco, um pouco de vento vez enquando.

      Começo a dirigir a única coisa que escuto é o som do pneu pisando a água que ainda está no esfalto. Ligo o som do rádio, não estou muito afim de papo. Conversar com pessoas alcoolizadas, em alguns momentos, é impossível.

      Primeiro sinal dos 3 que terei pelo caminho. Vermelho. Enquanto espero ele ficar verde escuto um "Pode passar, aqui não tem sensor". Como se eu não soubesse. Passo por esse sinal todos os dias que tiver que sair de casa dirigindo. E não entendo o porque das pessoas terem sempre que passar no sinal vermelho a noite. Nem entendo direito as pessoas. Enfim.

      O viaduto está diferente. Hum, apagaram a iluminação de pista e só deixaram a iluminação decorativa. Ela varia de cor com o tempo, mas agora está vermelha. Combinou com a noite, um certo ar sombrio. Dá vontade de parar o carro no meio do viaduto e ficar lá esperando a noite passar. Não será dessa vez, alguém ainda tem que chegar a rodoviária.

      A pessoa ao meu lado diz que não vai chover mais, baseado em que tipo de informação ou sentido eu não sei. O céu está pronto pra desabar e como forma de demonstração, começa a chover fraco. Nem preciso fechar os vidros, no entanto ligo o limpador do parabrisa e percebo que preciso trocar as palhetas. Agora é que não vai ser então tentarei me preocupar com isso depois que acordar.

      Segundo semáforo verde, é só seguir em frente. A chuva aperta, sobem os vidros. Estou quase na rodoviária. Último sinal fechado, não demora muito e abre. Rodoviária, passageiro; passageiro rodoviária. Agora estou livre.

      A noite agora é só minha. Poderia sair vagando a toa, sem rumo e sem hora pra voltar, mas me lembro que quem paga a gasolina do meu carro sou eu. É, triste quando a poesia é sufocada pela falta de verba. No fantástico mundo de Bob isso não acontece, tenho certeza. Sorte dele, azar meu.

      Volto pelo mesmo caminho que fui. Em algum momento penso na minha cama e no quanto ela vai estar vazia quando eu chegar. Noites assim não poderia ter camas vazias. Sem cheiro, sem calor. Sem graça.

      Chego em casa, guardo o carro e tranco a porta da sala. Chego no quarto e vejo que larguei o violão nela. Licensa poética a parte, não era esse tipo do companhia que eu esperava. Por causa disso acabei ficando injuriado. Sabe de uma? O violão que se aqueça nela, mas hoje eu não vou dormir na cama.

      Minha poltrona parece mais convidativa.