27 dezembro 2014

Os bancos, parte final



      "Por entre árvores da praça que seria o cenário recorrente dos encontros, avistaram o fim de tarde, sol se pondo por trás dos morros no horizonte. O pequeno cinema oferecia um lindo filme que contava a história de uma mulher forte que correu atrás dos seus sonhos quando todos diziam para que ela desistisse. Violeta foi para o céu. Sentaram na última fileira de bancos e enquanto esperavam as luzes apagarem, se beijaram. Um beijo breve, quase que roubado. Um beijo doce, quase impossível. Do beijo, fez-se o riso, um sorriso contido, quase envergonhado. Outro beijos se seguiram e sem perceber o cinema, mas pessoas, o filme, tudo tinha desaparecido. Eram só eles dois, descobrindo-se, chegando a lugares um do outro onde nunca estiveram antes. Acendem-se as luzes. Fim.

      E o que parecia mais um romance de final feliz desemborcou em outro clichê: o drama imbecil. Como se gato e rato, ele a procurava, ela fugir. Inalcançável, impossível. E assim o amor foi se esmaecendo, transformadas em desbotadas lembranças cores que as flores da praça um dia tiveram enquanto conversavam em um banco.

      Mas o amor é algo imprevisível e surge quando menos se espera, de onde não se imagina. Ela ressurgiu, como se nada tivesse acontecido, falando dos dois juntos e como tudo poderia ser bom dali pra frente, fazendo o peito dele se encher de esperanças, sentado na poltrona em frente ao computador, milhares de quilômetros longe dela, querendo pegar em sua mão e mais uma vez provar daquele beijo.O O tempo foi passando, a vida seguindo e o desejo de se reverem sendo regado a cada bom dia dado.

      Quase um ano se passou até novamente ele se ver cercado de bancos num aeroporto, prestes a voltar à cidade onde há beleza no horizonte. E foram bancos de avião, de ônibus, de carros até o retorno ao banco da praça. Mais uma vez a presença dela transformava o mundo em um detalhe esquecível. Foram ruas, igrejas, museus, cadeiras, sofás e bancos, tudo muito lindo, tudo ao lado dela. Ele viu a beleza dela refletida no vidro da janela, ele sentiu um arrepio percorrer seu corpo quando ela, ao tomar um susto, apertou a sua mão e se encostou em seu ombro. Sentiu que tudo fazia sentido.

      Voltaram ao mesmo cinema da outra vez, onde se beijaram como quem rouba manga da casa vizinha, mas dessa vez tudo foi diferente. Mal havia começado o filme, tiveram que ir embora. Na dúvida entre esperá-la voltar ou passear solitário o resto do dia, depois do beijo de despedida ele sentou e tomou um suco de laranja.

Mal ele imaginava o qual amargo seria aquele suco e que a última vez que a veria seria quando aquele par de all stars vermelhos dobrou a esquina."