16 dezembro 2011

Apostas

      Finda-se. Um instante, um momento, um ano. O recomeçar é um direito de quem respira, mas é um dever pra quem escolheu viver de verdade.

      Perder e ganhar são partes do jogo, não adianta reclamar. Faça suas apostas e deixe os dados rolarem. No fim ganha quem souber aproveitar.

07 novembro 2011

Des-cama.

      Madruga de sábado para domingo, quase meia noite. Horário de criança estar dormindo, diriam alguns pais. Pra mim é horário de cumprir uma pequena função familiar. Ser o único habilitado a dirigir um carro nessa hora da noite tem esse tipo, por assim dizer, contratempo. Conferindo: chave, carteira, celular. Tudo pronto. Se o trânsito e os furadores de sinais vermelhos permitirem, não levarei mais do que 25 minutos no trajeto de ida e volta.

      A noite está bem fria, parece até inverno. Não venta, mas também não estou com calor. Não se vê uma estrela no céu, tudo coberto por nuvens que variam do cinza claro até um branco encardido. A lua deve ter aproveitado pra tirar folga pois não foi possível vê-la. Todas as noites deveriam ser assim. Quer dizer, quase todas. Noite de lua cheia não deve ter nuvem. Nas outras noites poderia ser assim: nublado, fresco, um pouco de vento vez enquando.

      Começo a dirigir a única coisa que escuto é o som do pneu pisando a água que ainda está no esfalto. Ligo o som do rádio, não estou muito afim de papo. Conversar com pessoas alcoolizadas, em alguns momentos, é impossível.

      Primeiro sinal dos 3 que terei pelo caminho. Vermelho. Enquanto espero ele ficar verde escuto um "Pode passar, aqui não tem sensor". Como se eu não soubesse. Passo por esse sinal todos os dias que tiver que sair de casa dirigindo. E não entendo o porque das pessoas terem sempre que passar no sinal vermelho a noite. Nem entendo direito as pessoas. Enfim.

      O viaduto está diferente. Hum, apagaram a iluminação de pista e só deixaram a iluminação decorativa. Ela varia de cor com o tempo, mas agora está vermelha. Combinou com a noite, um certo ar sombrio. Dá vontade de parar o carro no meio do viaduto e ficar lá esperando a noite passar. Não será dessa vez, alguém ainda tem que chegar a rodoviária.

      A pessoa ao meu lado diz que não vai chover mais, baseado em que tipo de informação ou sentido eu não sei. O céu está pronto pra desabar e como forma de demonstração, começa a chover fraco. Nem preciso fechar os vidros, no entanto ligo o limpador do parabrisa e percebo que preciso trocar as palhetas. Agora é que não vai ser então tentarei me preocupar com isso depois que acordar.

      Segundo semáforo verde, é só seguir em frente. A chuva aperta, sobem os vidros. Estou quase na rodoviária. Último sinal fechado, não demora muito e abre. Rodoviária, passageiro; passageiro rodoviária. Agora estou livre.

      A noite agora é só minha. Poderia sair vagando a toa, sem rumo e sem hora pra voltar, mas me lembro que quem paga a gasolina do meu carro sou eu. É, triste quando a poesia é sufocada pela falta de verba. No fantástico mundo de Bob isso não acontece, tenho certeza. Sorte dele, azar meu.

      Volto pelo mesmo caminho que fui. Em algum momento penso na minha cama e no quanto ela vai estar vazia quando eu chegar. Noites assim não poderia ter camas vazias. Sem cheiro, sem calor. Sem graça.

      Chego em casa, guardo o carro e tranco a porta da sala. Chego no quarto e vejo que larguei o violão nela. Licensa poética a parte, não era esse tipo do companhia que eu esperava. Por causa disso acabei ficando injuriado. Sabe de uma? O violão que se aqueça nela, mas hoje eu não vou dormir na cama.

      Minha poltrona parece mais convidativa.

16 outubro 2011

Crônica dos 30 anos

"Vou andando como sou
e vou sendo como posso."


      Eu tento escrever algo para publicar relativo a minha crise dos 30 já fazem mais de 15 dias. Meu aniversário chegou, passou e eu não publiquei nada. Talvez porque não saiba o que escrever, talvez porque acho que não seja a hora de expor certas coisas.

      Cantei parabéns, apaguei as velas e... nada de tristeza. Não esperei por presente algum além da lembrança de alguns amigos e, no entanto, posso dizer que fui bem presenteado. Entre tequilas, vinhos e perfumes (com nome de vinho - devem achar que sou cachaceiro ¬¬), algo mais legal me foi dado sem que alguém tivesse imaginado: alegria. Embrulhada numa leveza que por muito não sabia da existência no mercado, ela surgiu em doses enebriantes. Aproveitei cada gota possível, pedi outra dose e quando tinha acabado o estoque eu voltei pra casa numa ressaca maravilhosa.

      Eu precisava disso. Eu merecia isso. Eu quero mais, quero paz e quero riso.

      Vou deixar pra escrever sobre a minha crise de 30 anos depois, porque até agora não me entendi com ela. Essa DR não faz sentido no momento e quando chegar a hora espero que a idade pese ao meu favor.

10 outubro 2011

Todas as noites


eu e você
loucos a procura de fantasias
fazendo dos dias a nossa prosa
e das noites, poesia.

não somos dois
somos mais
somos sós
e sem sentido.

se eu te der a mão
você me dá um sorriso
eu te quero bem
você me quer contigo
se eu te fizer dormir
você vai sonhar comigo
não teremos início
nem seremos fim
só destino.

nos resta amar
e isso não basta
todo o amor é pouco
quando se tem
um coração louco.

04 outubro 2011

Doação

      "Um estampido. Nem teve tempo de ouví-lo direito. A bala foi mais rápida que o som e alcançou o outro lado da sua cabeça antes que a pressão das ondas sonoras pudessem causar qualquer tipo de sensibilização do tímpano. De um lado estava surdo, do outro estava morto.

      Se ele ainda pudesse manifestar opinião, uma única que fosse, diria que é mentira aquele clichê de que passa um filme da sua vida nesse átimo de tempo entre o saber iminente da morte e a morte propriamente dita. Nem uma micrometragem séria possível, o tempo que uma bala leva entre o tambor do revólver e o osso parietal oposto, quando se tem o cano encostado no couro cabeludo, não chega a um segundo. O máximo que ele pode fazer foi uma fotografia mental.

      Torcendo para que os neurônios que serviram de negativo não tivessem virado churrasco pelo calor do projétil e a humanidade tendo desenvolvido tecnologia para resgatar as últimas informações cerebrais, seria possível ver uma pessoa se olhando no espelho. Provavelmente também seria visível a banheira cheia de água e gelo. Um revolver. Um telefone do lado da banheira. Um pequeno pedaço de papel.

      Não seria difícil para a polícia finalizar a investigação. Suícidio com arma de fogo. Tiro certeiro, calculado, dado por alguém que sabia o que fazia. Ah, o sempre esperado recado de despedida ao mundo. Não teríamos nenhum herói para o jornal da noite.

      Mas os primeiros a chegar seria os médicos, avisados pelo próprio suícida. Para o roteiro dar certo e ele se sentir realizado em algum plano de existência etéreo (para alguns isso é conhecido como 7 palmos de terra) era preciso que a equipe de resgate emergencial não demorasse muito. Sabe como é, mesmo envolto de água gelada o corpo vai se deteriorando aos poucos. O sangue para de circular, os tecidos mais sensíveis ficam podres, algumas coisas enrigecem, outras amolecem. Tudo bem, isso ia acontecer para a maior parte do corpo, mas uma em especial precisava estar apta para uso posterior. Era importante.

      Por outro lado o SAMU não podia chegar muito rápido. Vai que esses malditos conseguem mantê-lo "vivo", mesmo que vegetando sobre uma cama de hospital? Sua existência já havia sido fodida demais para que tivesse que conviver com isso. Alguns motoristas mal educados, desses que buzinam antes do sinal ficar verde para que todos saiam da sua frente, pelo caminha daria conta do ímpeto desse povo de branco.

      O bilhete estava em destaque bem ao lado da banheira para que fosse visto até por um cego no escuro. Como queria evitar burocracia (mortos não gostam de perder tempo com papeis) deixou embaixo do bilhete a própria identidade e não pensem que era para facilitar identificação do defunto. Importante era a mensagem passada por três pequenas palavras: doador de órgãos.

      No bilhete seria possível ler a última vontade desse infeliz. Literalmente. Tanto a parte da última vontade quanto a do infeliz. Escrito com letras miúdas, lía-se:


"Coração pouco usado. Partido, porém funcional. Não entendi como funcionava, não tinha manual.


PS.: Pode ser que ele seja alérgico ao amor. Preferi não arriscar."

21 setembro 2011

"Na margem do São Francisco, nasceu a beleza..."


      Olá, pessoas! Estou aqui para contar um pouco do meu fim de semana: uma viagem a Canindé do São Francisco, município sergipano situado às margens do Velho Chico e onde também se situa a Hidrelétrica de Xingó. Esse passeio foi o prêmio que ganhei no concurso de fotografia que eu tinha comentado alguns posts atrás.

      E lá fomos eu e a Thati (é, eu tinha direito a levar alguém comigo) para esses dias de vida difícil. Na programação uma visita ao Museu de Xingó, um passeio de catamarã nos canyons do São Francisco, um almoço na beira do rio num restaurante flutuante e a noite livre. Apesar de pequeno o museu tem peças bem interessantes e uma lojinha com lembranças bem legais. Daí fomos pro passeio de catamarã e me deparo com o primeiro detalhe que perdurou o final de semana todo. Tempo nublado. Pô, todo mundo me colocou a maior pressão pra que eu fizesse fotos lindas e tal (afinal de contas eu ganhei um concurso de fotografia, não foi?), mas como, se não tinha uma boa iluminação? Tem outra coisa. Quem não fica morrendo de vontade de se jogar de cabeça num rio ou piscina quando está fazendo um sol de rachar? Pois então, quando fica nublado ou chovendo acontece o inverso.


      O segundo detalhe que foi fácil reparar por aquelas bandas é que venta MUITO, a ponto de ficar quase impossível conversar com uma pessoa do seu lado sem falar alto. Quem gosta de kite surf ia adorar aquilo lá.

      Sexta de noite estávamos com as pilhas meio descarregadas pelo fato de acordarmos cedo pra viajar e de ter nadado um tanto e comido bastante. Um café com torradas e simbora pro quarto. Amanhã é outro dia.


      A programação de sábado era livre. Como o hotel fica meio distante de tudo, ficamos por lá mesmo, numa vida de lordeza em volta da piscina. Caipirinha pra lá, caipirinha pra cá, depois do almoço resolvemos tentar chegar ao rio caminhando. Primeiro tentamos pela rodovia. Na metade do caminho desistimos. Tentamos pela cidade. Nada feito. Na volta ao hotel resolvemos perguntar a quem entende dessas coisas. Eis, então, que os porteiros do hotel dizem que tem uma trilha que sai do lado do cemitério que vai dar na prainha do rio. Hum, sei. Cemitério, né? E de lá dá pra pegar um barco pra conhecer Angico (local onde Lampião e mais alguns do seu bando foram mortos) e a cidade de Piranhas, que fica do lado alagoano do Velho Chico. Como não tínhamos mais horário pra isso no sábado, deixamos pro domingo de manhã.

      Pra dar uma animada no pessoal do hotel, a noite tivemos uma seresta em volta da piscina. Foi legal ver um monte de coroas rindo e dançando enquanto tomava um vinho pra dar conta do frio. Chovia uma pouco e ventava, o que não era um bom sinal para o passeio do outro dia.

      Acordamos cedo, tomamos café fomos atrás da trilha do cemitério. Não foi difícil de achar, mas ela até que era um tanto complicada de seguir, afinal ela é de barro e tinha chovido a noite toda. Então faça as contas e acrescente algumas pedras lisas e uma descida um pouco íngreme. Como somos habilidosos na arte de andar no mato (nada como o curso de biologia na universidade pra nos ajudar), ninguém caiu. Depois foi só pegar a pista, passar da cabeceira da ponte, andar mais um pouco numa estrada de barro (de novo) e pronto, chegamos no ponto de encontro com o barqueiro. Aqui queria deixar explícita minha satisfação em conhecer o Hugo e o Mateus, respectivamente pai e filho, que seriam os responsáveis pela nossa pequena viagem em direção a Angico. Como o resto do pessoal que iria participar do passeio, ficamos só eu, Thati e Mateus (o Hugo foi fazer qualquer outra coisa da vida dele). Muito gente fina o moleque, entende bastante do rio, das cidades, dos passarinhos e das pessoas da região. Chegando em Angico fizemos a pequena trilha até a Grota onde 11 dos 35 cangaceiros do bando Lampião foram mortos. Lá ficamos a cargo do Elias, guia mirim que trabalha com os grupos de turistas.

      Como sorte pouca é bobagem, no momento em que o Elias ia começar a explicar sobre a história do cangaço chegou um grupo de 3 pessoas. Eis então que se apresetam: rapaz, um senhor (cego, usando um chapéu de Lampião e pai do primeiro rapaz) e um segundo rapaz, que viria a ser João de Sousa Lima, estudioso do Cangaço e dono de uma coleção com mais de 1500 peças sobre o mesmo. Ele então falou um tanto sobre o que se passou e tirou algumas dúvidas do Elias (esse garoto ainda vai lonte nessa vida de estudar o que se passou no nordeste nos idos dos anos 20 e 30 do século passado). Descobrimos também que o senhor cego é carioca de Macaé, traduziu um dos livros do João para braile e estava indo com o filho e o João rumo o Crato, no Ceará, para uma convenção sobre o cangaço. E assim encontramos mais pessoas legais pelo caminho...

      Hora voltar, nosso tempo era curto e ainda tinhamos um bom pedaço de rio pra navegar contra a correntenza pra poder chegar no hotel, almoçar e não perder o transporte de volta pra casa. Passa uma prainha de areia. Passa outra. Mais uma... sabe de uma coisa? Para naquela ali na frente que eu vou tomar um banho nesse rio de novo. Banho tomado, todos no barcos e seguimos de volta. Teoricamente teríamos que fazer a caminhada de volta ao hotel quase que correndo, mas por sorte conseguimos uma carona na estrada e deu tempo de fazer o que era preciso sem pressa.


      Subimos na van que nos traria de volta pra vida. Pluguei minha fone de ouvido no celular e escutei umas músicas enquanto pensava no que tinha se passado. As músicas acabaram faz tempo, mas eu continuo pensando naquele rio.

13 setembro 2011

Sem surpresas

      "Cansado. Se sentia cansado de tudo. De todos. De nada acontecer quando deveria, da avalanche de coisas insignificantes que lhe sufocavam noite e dia.

      Diziam para ele (a vida dos outros sempre é mais fácil) fazer algo diferente ou então as mesmas coisas de sempre mas de uma forma distinta. Nunca entendeu bem esse tipo de conselho, não parecia muito lógico que mudar a forma de fazer algo rotineiro causasse algum tipo de melhora. Resolveu tentar.

      Livros. Sempre foi um desejo velado da sua alma gostar de ler livros. Todos que lêem muitos livros são inteligente, assim pensava. Sempre admirou os livros, no entanto os via como algo inalcançável. Lera poucos até então, gostara de quase nenhum. Dessa vez faria diferente. Talvez desse certo.

      Foi a livraria. Começou a percorrer os corredores, olhando as prateleiras. Descartou todos os clássicos e também os mais vendidos. Não queria um livro comentado, que várias pessoas já tivessem indicado. Queria explorar o desconhecido, algo que o tirasse da mesmice. Procurou um livro que, ao olhar para a sua capa, o deixasse desconfortável, incomodado.


      Se deu por satisfeito quando encontrou um livro meio amassado numa pratileira que não era pra estar. Sinal de que vagava a um bom tempo de um lado para outro sendo renegado ao esquecimento. Provavelmente nem a distribuidora aceitou como devolução.

      Começou a ler o livro pela capa do fundo. Depois partiu do final do livro para o começo, invertendo a ordem natural das coisas. Não fez diferença alguma, continuou a não gostar de ler. Jogou o livro fora.

      Ao menos ele provou sua teoria: depois de tantos anos se conhecendo como ninguém poderia conhecê-lo, ele sabe que sua alegria está nas coisas de sempre, mesmo que de vez enquando elas pareçam diferente."

08 setembro 2011

Algo que esqueci pelo caminho.

      A cada dia que passa me pergunto porque não consigo escrever, porque não consigo gostar das músicas que ouço, do porque eu achar que nada muda. Talvez eu tenha encontrado a resposta. Quem sabe a porta de saída desse calabouço.

      Sentimentos. Emoções. Sensações. É de tanto não sentir que eu estagnei. Faltam-me as pequenas aflições e as grandes alegrias. O palpitar inconstante do coração. As borboletas no estômago, o frio na barriga, o calafrio. Fugiram todos.

      Queria eu ter um bom motivo pra sorrir todo dia ao acordar. Algo que me fizesse querer fazer o dia passar mais rápido e então, quando encontrasse o que esperava, torcesse pro tempo parar. Que me fizesse ficar ligeiramente triste por ter que me despedir, já pensando no dia sequinte.

      As músicas que ouço já não me transformam mais, perderam a melodia, nem carregam consigo as poesias. Acordes surdos alcançam meu ouvido e se perdem no vácuo da minha mente.

      Nem livros eu leio mais. Amontoados de letras sem sentidos, sem ter porque nem razão. Não mais representam novos mundos a serem vividos, daqueles que me fazem esquecer desse mundo em que vivo.

~      Eu esqueci o que é paixão.

20 agosto 2011

Tanto nada





Tenho,
dentro de mim,
tanto sentimento pra sangrar
e isso não me basta.
Mata.

15 agosto 2011

Que falta educação faz

      Nasci, cresci (mas não muito) e vivo em Aracaju a quase 30 anos (já estou nessa crise, mas deixo isso para outra postagem). Posso dizer que conheço bem o povo da minha terra e por isso mesmo faço esse desabafo: as pessoas daqui são mal educadas pacas!!!

      Obviamente que essa constatação não engloba 100% da população aracajuana, porém tenho que admitir que a média é maior do que o aceitável. Uma saída de poucos minutos faz qualquer um ver um festival de lixo jogado pela janela, vários sinais vermelhos sendo furados, incontáveis motonetas (as famosas shinerays) trafegando por todos os lugares e seguindo para todos os lados, pessoas que ficam com seus celulares tocando música alta (não só em ônibus), pessoas que ficam com trios elétricos disfarçados de carros competindo pra ver quem atrapalha mais a vida dos outros.

      Hoje me deparei com mais uma faceta dessa deseducação. Estava dando minha pedalada diária num calção que tem duas faixas preferenciais para bicicletas. Isso quer dizer que todo mundo pode trafegar por ela, mas se tiver um pedestre e um ciclista querendo usar ao mesmo tempo a preferência é do ciclista. Sabe porque? Porque tem mais 4 ou 5 faixas preferenciais para pedestres. Eis que estou eu lá pedalando em uma velicidade razoavelmente alta e me deparo com uma jovem senhora dos seus 40 anos andando no sentindo contrário (já começou errada porque estava na contramão pois as faixas para bicicletas tem seus sentidos de circulação pitantos no chão). O esperado seria ela voltar pra uma das faixas para pedestres, afinal de contas elas estavam VAZIAS. Continuei mantendo meu ritmo, prestando atenção nela. Nada dela se mover lateralmente, só seguia em minha direção. Quando chegou num ponto em que achei sensato começar a tomar providências, diminuí meu ritmo, mas não mudei de faixa e fiquei encarando-a pra ver se ela se tocava. Pois então que ela continuo caminhando e quando estavamos próximos o suficiente, eu falei:

- Senhora, essa aqui é uma faixa para bicicletas, você deve caminhar nas outras aqui do lado.

      No que ela responde:

- Eu ando onde eu quiser e se você me machucar eu lhe processo!

      OI!?!? Eu dou um aviso para o bem dela e recebo uma pedrada dessa como retribuição? Depois disso comecei a desejar que algum ciclista tão educado quando ela voasse com uma roda nas costas dela e deixasse paraplégica. ¬¬

      Eu ainda me incomodo muito com essas atitudes sem consciência do povo de Aracaju. Em alguns momentos eu torço pra quem joga lixo no chão bater num caminhão de lixo e ficar soterrado por uma montanha de sacos plásticos. Ou quem anda na contramão, nas calçadas ou fura sinal vermelho colida com um poste e tenha um baita prejuízo financeira. E se você acha que sou uma pessoa ruim por isso, saiba que eu só penso nessas coisas. Nunca faço nada pra prejudicar os outros. Sou, sim, bem educado.

05 agosto 2011

Um pouco de cor

      A minha vida por aqui anda bem parada. Como que colorida em tons pastéis. Nada acontece e eu não faço muito esforço para acontecer. Essa semana, no entanto, aconteceu um fato novo. Algo colorido.

      Eu gosto de fotografia, mais precisamente de fotografar. Já investi um tanto dos meus recursos financeiros, do meu tempo e da minha paciência procurando melhorar minha técnica. Até aprendi por conta própria a editar minha imagens (não faço mágica, como algumas pessoas parecem fazer), reaproveitando várias fotos antigas que foram mal tiradas ou então feitas com equipamentos ruins. Fico contente com os resultados das minhas experiências, mais ainda quando as pessoas comentam dizendo que gostaram. Mas não me julgo nem me "sinto" fotógrafo. Seria um hobbie, um passatempo.

      O Banco do Estado de Sergipe (Banese) promoveu um concurso fotográfico em comemoração aos 50 anos de sua fundação, onde o tema era Sergipanidade. Para participar era preciso ter uma conta no Twitter e postar uma única foto com a seguinte legenda: "Sou como o @Banese50anos: sergipano
de corpo, alma e coração". A escolha seria feita por uma banca escolhida pelo próprio banco. De quando eu soube do concurso até o final do prazo para envio da imagem, fiquei me perguntando o que representa o povo do meu estado. Algo como a acarajé, a capoeira e o Olodum estão para a Bahia, a cuia de chimarrão lembra os gaúchos, etc. E não encontrei, mesmo tendo vivido meus quase 30 anos aqui.

      Não que sejamos um povo carente de identidade, apenas não temo O símbolo representativo em definitivo. A alguns anos atrás poderia ser o caranguejo, atualmente seria algo como os festejos juninos. Infelizmente passei os dois principais dias desse período viajando e só soube do concurso depois. Poderia fazer uma registro dos barcos de fogo de Estância, que é algo que acredito só existir aqui em Sergipe. Ou da guerra de espadas. Ainda assim não acho que seria o ideial.

      Como chovia quase todo fim de semana e durante os dias úteis a preguiça e a falta de tempo reinavam, comecei a pesquisar no meu arcevo de imagens. Fotografo (bem ou mal) desde 2004, então tenho muita coisa aqui guardada. Na hora de selecionar meu critério foi um só: simplesmente olhando para a foto, sem fazer análises técnicas, eu procuraria me identificar com o que tivesse ali registrado. A que me fizesse sentir isso mais forte seria a que enviaria.

      Dia 8 de julho (ainda não sabia da existência do concurso nesse dia) foi comemorado aniversário da emancipação política do estado, além da entrega do certificado de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade para a cidade de São Cristóvão (4º cidade mais antiga do Brasil e primeira capital de Sergipe), referente ao conjunto da Praça São Francisco de Assis. Como iam haver apresentações dos grupos folclóricos do estado, fui dar uma passada por lá. Gosto muito das apresentações e também de fotografá-los. E foi uma dessas fotos que resolvi enviar para o concurso.

      Nela está presente, para mim, o maior símbolo de representação do meu povo, aquele que todos olham e pensam "Isso aqui é coisa de Sergipe", tendo boas lembranças (pra quem nunca veio aqui, talvez sejam bons pensamentos para um futuro próximo). Eu, sendo sergipano e tendo vivido praticamente minha vida toda aqui, me senti contemplado. De alguma forma ela deveria valer a pena.

      E foi então que eu ganhei o concurso. Fiquei bastante alegre, o prêmio será uma viagem de um final de semana com tudo pago num hotel em Xingó, na beira do rio São Francisco. Me envergonho de dizer que nunca fui lá. Quem tiver curiosidade depois pesquise sobre fotos do Canyon de Xingó. O lugar é lindo e em breve eu estarei por lá. =D

      Mas além da alegria do prêmio em si também tem duas coisas que me deixaram muito feliz: a iniciativa do banco, já que somos carentes desse tipo de promoção social aqui no estado; e o fato do meu esforço para fotografar melhor ter rendido um novo fruto.

      Tem gente que me diz que eu deveria investir mais nisso pois levo jeito. Talvez eu faça isso um dia. Minha cunhada (que é blogueira do ramo de casamentos e afins) fez até uma postagem com algumas fotos minhas dando idéia de lugares para fazer fotos E-sessions (pessoas chiques fazem isso, para mim é álbum de noivos mesmo). No final ainda me parabenizou pelo concurso. Vocês podem ver esse merchan em família (eu faço propaganda do blog dela, ela faz divulgação das minhas fotos) aqui.

      Não sei se poderia estar fazendo isso, pois pelo edital do concurso eu faço a cessão dos direitos de propriedade da imagem para o banco, mas deixei para o final a foto que me fez sentir orgulhoso. De ser sergipano, de gostar de fotografia e de ter pessoas que gostam do que faço. Assim como me sinto orgulhoso de manter o blog e de saber que algumas pessoas leem e gostam.

02 agosto 2011

Reflexões


      "Olhando no espelho percebeu algo de estranho no próprio olhar. Um brilho que não costumava ver em si mesmo a muito tempo agora estava ali, refletido. Gastanto um pouco mais de tempo e atenção naquela imagem especular eu entendeu do que se tratava. O passado tinha vindo lhe visitar.

      Buscando fundo a origem daquele brilho encontrou lembranças a muito dadas como adormecidas fazendo uma festa. Como se comemorando o retorno de algo ou alguém, copos cheios de alegrias e gargalhadas, pratos de carinhos e afetos servidos quentes, recém saídos do forno. Tudo isso anda em falta na sua vida atual, vazia de significados, de abraços e de lembranças novas e boas. Faltava-lhe até metáforas e uma vida sem metáforas não pode ser chamada de vida.

      Projeções passaram pela sua retina como filmes. Longas metragens, curtas metragens, propagandas. Todas aquelas coisas vividas em tempos idos e revividas em sessões fora da programação. O bilheteiro e a platéia era uma pessoa só: ele mesmo. E o preço só será sabido na saída pois nenhuma lembraça retorna de graça. Sempre se paga algo por elas.

      Absorto pelas lembranças, ele foi, pouco a pouco, se afastando do espelho, esperando que isso fizesse tudo voltar ao normal. Então perdeu de vista o brilho no olhar. Voltou a ser o vazio que se tornara."

22 julho 2011

Os poderes

Eu poderia
na calada da noite, ao som da escuridão
desmerecer toda a história vã
que eu tenho contado ao mundo
um ato de coragem, de rebeldia, de cinismo
contra tudo aquilo que eu ainda acredito
(ou penso acreditar).

Eu poderia
dizer o que penso, o que sinto, o que sonho
mas eu não sonho
então não digo.
Desejo o que não posso esperar
espero pelo que pode nunca chegar
(e não chega nunca mesmo)
chegando a conclusão que não há.
o pensar, o sentir e o sonhar
não passam de maneiras sutis
de fugir de onde não há como escapar.

Eu poderia
no auge da minha agonia começar uma dança
mas eu ando tão sem graça
que a tristeza nem disfarça
a alegria de me encontrar
e me escolher como par
pra uma valsa.

Eu que poderia...
me descobri não podendo
não querendo
e nem sendo.
Só vendo.
Sofrendo.

Eu já não podia.

21 julho 2011

Inverno na alma

      A noite tenho sentido frio. Um frio que não é normal por aqui. Não sei se é o frio que vem de fora ou se é o inverno do meu coração. Parece o frio de quando estive perto de você sem, no entanto, te encontrar. Tenho certeza que nenhum frio seria igual ao frio que te toca quando faz frio.

      Esses dias tenho estado distante, fechado, doente. Entre causas e culpados, não se salva nem o passarinho que canta todo dia na minha janela. Ele não precisa esfregar a felicidade e liberdade a plenos pulmões antes da 7h da manhã. Me deixa ao menos pensar nos meus problemas em paz.

      Há o peso na balança. Há o peso dos fatos, dos atos. E há o insuportável peso dos dias passando. Quando penso no peso que terei carregado quando todos os dias passarem me pego desistindo. Do peso. Do tempo. Do mundo.

11 julho 2011

Se faltar a paz... Minas Gerais


      Eu pensei em escrever um relato da minha viagem a BH, a alguns dias atrás. Escrevi, apaguei, pensei, desisti, comecei de novo. Apesar de ter mais de 15 dias que voltei, algumas coisas ainda precisam ser assumiladas. O que aconteceu, o que poderia acontecer e o que não aconteceu.


      Dessa vez nada de cachaça, pão de queijo, café ou frio. Nada de trilhas, reuniões políticas, noites acordadas trabalhando. Se antes tudo era novidade, agora tinha um pouco de "mais do mesmo".

      Se nem tudo foi como o esperado, o inesperado também foi importante. Queria ter aproveitado mais, curtido mais, me chateado menos. Fotos foram poucas, conversas foram muitas. Ficou um gosto de quero mais.


      Parque Municipal, Praça da Liberdade, UFMG, Mercado Municipal, Savassi, Feira dos hippies, Lagoa da Pampulha (se arrependimento por não carregar uma câmera matasse...). Lugares não foram muitos. A vontade de voltar e conhecer o que faltou é enorme.

      Trago comigo a saudade e a lembrança de um céu riscado por aviões. Algum dia serei eu a trilhar meu caminho pelo céu de BH. Não sei quando volto lá, só espero que seja em breve e que não seja breve.

03 julho 2011

De parabéns! \o/

      Faltam poucos minutos para às 5h da manhã desse dia 03-07-2011. Não faltam mais nada para esse blog completar 5 anos de vida. Um parabéns a ele. Um orgulho para mim.

      Nunca imaginei que ao escrever a primeira postagem eu estaria aqui, após 5 invernos, escrevendo mais um texto. O blog mudou muito nesse tempo. Eu também. Cada vez mais vamos nos entendemos melhor.

      Não vou novamente falar da ladainha de que esse peçado de mim é importante, pois isso eu já fiz algumas vezes e não precisa ser repetido. Talvez o que eu tenha me dado conta só a pouco tempo seja o fato de que não fico mais empolgado ou me sentindo obrigado a escrever o que quer que seja por aqui. Se isso fez com que o número de postagem tenha diminuído, também fez com que eu perceba que o blog já está consolidado como parte da minha rotina. Hoje percebo que o apreço que tenho por ele não é mais uma paixão, dessas arrebatadoras, que chegam, mudam tudo e depois somem sem deixar saudade. Definitivamente não somos assim. É mais um caso de amor amadurecido, testado pelo tempo. Não se extinguirá com a próxima crise da relação. E elas não foram poucos, nem muito menos não acontecerão novamente.

      Pensei em fazer várias coisas por causa dessa data, mas acabei deixando tudo para lá. Não por achar que esse blog não mereça. Se pudesse eu faria sorteios, promoções e tudo mais que me fosse possível. Mas pensando bem o melhor presente que posso dar a ele (e a mim também) é continuar escrevendo. Já quem lê pode continuar acompanhando e, vez ou outra, comentando.

      Assim ele nasceu, cresceu e começou a caminhar por conta própria. Não preciso mais ficar me cobrando escrever algo com frequencia. Farei isso quando for prazeroso. Não sei se tanto para os que estão do outro lado (vocês que gastam suas vistas e seus tempos comigo), mas para mim é uma forma particular de alegria clicar no botão "Publicar Postagem" que fica aqui embaixo da tela de escrita.

      Agradeço aqui a tod@s que de alguma forma ajudaram a manter esse espaço. Idéias, histórias, comentários, incentivos. Continuemos todos a fazer as nossas partes, quem sabe não teremos mais 5 anos pela frente? ;)

      Tive pouco tempo para preparar qualquer coisa que fosse para esse momento especial, mas não deixarei passar em branco. Ao longo desse mês de Julho tentarei fazer mais algumas homenagens ao meu tão querido diá... quer dizer, blog. Quem sabe talvez até presentear alguém com uma edição impressa dos textos que mais gostei de escrever? Aguardem e torçam para que eu tenha tempo e disposição para isso.

      "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Então que "A vida em algumas linhas" não tenha um ponto final tão cedo. E que venham mais 5 anos.

28 junho 2011

Chegada. Mudança. Partida.


      Lá fora a tarde se vai, maquiada de espessas nuvens brancas. Um pássaro voa pra lá, uma pessoa caminha sozinha pela rua. O sol já se escondeu, não sei se por timidez ou por vergonha. Nada de pôr do sol hoje. Parece metáfora do que se passou do dia antes da hora em que não haverá pôr do sol.

      Mais uma vez o dia prometia ser especial. Anúncio de frio ao longo do dia, andar sozinho por uma cidade praticamente desconhecida, conhecer pessoas e lugares. Isso tudo gera expectativa, esse tempero da imaginação. Arrumei minhas coisas com antecedência, dormi mais que a média dos últimos dias para acabar não cansando antes da hora e levantei cedo para não me atrasar.

      Café da manhã, banho, rua. Daqui até o começo do passeio não dá nem 10 minutos a pé. Pode parecer pouco, mas foi nesse espaço de tempo que meu dia se estragou, me levando a simplesmente pensar em voltar mais cedo pra casa. Pra minha casa, a alguns milhares de quilometro de onde escrevo. Depois de caminhar um pouco por entre árvores e prédios, vi que isso de desistir era besteira. Mas a chateação e a tristeza ainda estão presente.

      Não esperava que tudo saísse como eu planejei. Isso seria sorte demais pra uma única pessoa. Mas quando algo repetidamente dá errado pode ser um sinal de que mudanças são necessárias, mesmo que tardiamente.

25 junho 2011

O mundo lá fora

      Eu trabalho dentro de uma sala que até uns meses atrás não tinha janelas. Alguns vidros nas paredes ajudavam a perceber o dia indo embora lá fora, mas não podia ser abertos para ajudar na ventilação, por exemplo. Era quase uma caixa selada com várias pessoas e computadores dentro. Nada muito legal.

      Recentemente foi feita uma reforma que colocou janelas na sala. O piso de carpete foi trocado por um de cerâmica, fazendo com quem as cadeiras de escritório com rodas alcancem velocidades jamais imaginadas! Agora os ar-condicionados ainda são um problema, mas não impede o trabalho.


      Mas porque falei mesmo esse monte de abobrinha?

      Desde a semana passada tenho viajado para o interior do estado por conta do trabalho, fazendo um levantamento para produzir um relatório sobre a necessidade de equipamentos para modernização dos postos. Parece chato, não? E seria, se fosse somente isso.

      No geral vamos em grupos de 4 ou 5 pessoas, o que deixa pouco ou nenhum espaço sobrando no carro. O motorista não anda a menos de 100 km/h. Faz um tanto de calor. Nem todo trecho de estrada está com o asfalto em boas condições e ainda vem acompanhados de motoristas irresponsáveis. Apesar de todos esses contratempos, a viagem é produtiva e divertida. Tudo bem, cansa um tanto ficar horas dentro de um carro indo de um lado pra outro, mas nada que o bom humor não resolva.

      Durante as viagens aproveito pra ver alguns lugares onde nunca estive e também tento bater umas fotos das paisagens. Outro dia estava na estrada e vi o sol se por atrás da serra da Miaba. Não deu para tirar fotos, mas tenho aqui na mente gravada a imagem. Se uma dia existir um meio de mostrar isso para as pessoas, eu o faço.

20 junho 2011

Suvenir


      Outro dia fiquei observando um passarinho no jardim. Um bem-te-vi lindo, grande e alegre que cantava por algum motivo. Talvez fosse só por cantar mesmo, tenho desistido aos poucos de encontrar a razão de tudo. Talvez seja a hora de sentir mais, de maneira pura e simples.

      Ver esse passarinho me fez lembrar de que um dia passarinhos simbolizavam bem mais que um bicho que voa. Era o símbolo de um amor. Então procurei por esse amor. Ele se foi. Não deixou nem um bilhete de até logo. Nem um adeus.

      Foi-se a época em que pássaros, tsurus e músicas me lembravam um amor. Um amor que se vai é um amor a menos e ter menos amor não pode ser bom. Andam faltando amor às pessoas. Um amor perdido não significa um novo amor a ser encontrado. Significa só que você tem menos amor que antes. E eu quero amor a mais, quero amar mais. Quero amor.

      Esse passarinho que simbolizava um amor nunca foi preso. Não existia gaiola que o prendesse. Não se prende um amor. Ou ele foge pela grade ou ele entristece e morre. O meu se foi. Sei que cuidei dele o melhor que pude e o deixei livre para ficar o quanto quisesse. Ou partir quando quisesse. Ele partiu.

      Não espero ele voltar e nem irei atrás dele. Se nos encontramos ao acaso uma vez, terá de ser o acaso a nos unir de novo. Eu tenho amor em mim, que dou e tomo quando e a quem quiser. Não peça, não cobre e nem compre o meu amor. Conquiste-o. Sem guerras, sem lutas, sem sangue. E assim como o amor-passarinho, ficarei pelo motivo de querer ficar.

      O passarinho foi embora e meu amor perdeu a forma. Anda amorfo por aí. Uma hora encontro um novo molde e o transformo em um amor diferente. Talvez num amor-fotografia, num amor-filhote-de-cachorro ou até num amor-amor (esse é difícil de explicar). Pode ser outro amor-passarinho. Desde que seja amor.

17 junho 2011

Contraluz


"Conferindo: câmera, ok; lentes, ok; cartões de memória, ok; baterias, ok; flashes, ok.

Em breve chegaria a modelo e ele teria mais uma tarde de serviços. Apesar de nunca ter pensando em ser fotógrafo, as coisas foram acontecendo naturalmente que hoje ele não se imaginava fazendo outra coisa para ganhar a vida. Assim como em qualquer profissão, havia bons e maus momentos. Particulamente preferia trabalhar com paisagens naturais e passantes desconhecidos de ruas, mercados e festas, mas também sabia que o que mais rendia dinheiro (e nome) eram católogos de modas e books. Não que esses fossem de todo ruim, mas era comum se deparar com mocinhas de 15 anos que são um pé no saco e pessoas que só queriam fazer as mesmas fotos que os avós faziam quando era jovens.

Seu renome ainda não permitia recusar trabalhos, então ainda aceitava alguns que de antemão sabia que não seria dos mais prazerosos. Seu sonho não era ser fotógrafo da capa da Playboy ou da Vip, mas ter ao menos uma fotozinha numa página qualquer da National Geographics. Se isso uma dia acontecesse ele se sentiria realizado e qualquer outra coisa depois disso seria besteira. Vez por outra ele enviava uma foto pra redação da revista, esperando ao menos uma resposta diferente do tradicional email autómatico afirmando o recebimento do arquivo. Ainda chegaria o dia.

Estava ali, no quarto de um hotel antigo no centro da cidade, aguardando a chegada da contratante. Pelo que tinha conversado, seria uma ensaio simples, feito naquele próprio quarto, com uma temática retrô. Apesar da idade o hotel se mantinha conservado e possuia um certo charme. Devia ter sido construído pela década de 50 ou 60, passado por poucas e restritas reformas, chegando aos dias de hoje misturado ao mar de fachadas e luzes que é o centro de uma cidade grande. Esperava que o trabalho não durasse mais que 2h, podendo aproveitar um pouco a luz do fim de tarde para fazer umas fotos na rua.

Eis então que alguém bate a porta. Há muito fazer trabalho para pessoas com quem ele nunca trocou mais do que três telefonemas deixou de ser algo que o deixava nervoso. Antes havia o medo de ser um trote ou até mesmo uma armadilha pra roubar os equipamentos (quem conhece um pouco de fotografia sabe o quanto isso custa caro). O tempo e a experiência o ensinou a separar o jôio do trigo.

Abriu a porta e se deparou com uma garota. Houve uma pequena exitação quanto a deixá-la entrar ou não. No telefone ele havia tratado com uma mulher que seguramente tinha a voz de quem já viveu ao menos umas 30 primaveras, enquanto que a pessoas à sua frente não deveria ter chegado a maioridade legal. Perguntou o nome dela, para confirmar que se tratava da sua cliente. Ela mostrou a identidade como resposta, provando ser quem dizia (e também confirmando sua análise inicial: 17 anos). Entraram os dois no quarto e ficaram em silêncio durante um tempo. Sendo ele a parte experiente da dupla, tratou de começar a conversar. Sabia que boas fotos só se fazem quando não há um clima de tensão e insegurança. Foi tentando aos poucos dizer como faria as fotos e em como ela queria que os desejos dela fossem correspondido. Calada, ela respondia com acenos de cabeça e sons não articulados.

Quando ela resolveu falar algo foi para perguntar se poderia se trocar. Ele disse que tudo bem, poderia começar logo a tirar as fotos. Ela carregava consigo uma mochila, provavelmente com as roupas e acessórias que gostaria de usar. Alguns minutos depois ela retorna, com um belo vestido longo, um chapéu channel, alguns brincos e colares, uma leve maquiagem pó de arroz e um sapato de salto. De alguma forma ela não parecia mais com uma garota de 17 anos, mas com uma bela jovem com seus 20 e poucos anos. Na mão, um LP. Ele achou estranho esse adereço, no que ela captou e disse:

- Isso não é para sair nas fotos. É pra fazer com que o clima do ambiente fique mais parecido com o que quero.

Curiosamente ela abriu um armário baixo e lá dentro se encontrava uma radiola antiga e, acreditem, funcional.

- Escolhi esse hotel depois de procurar bastante. A radiola é minha, trouxe pra cá hoje mais cedo. - Disse ela, demonstrando uma segurança na voz que não condizia com sua aparência inicial. Logo começou a tocar uma música francesa, com cara de filme antigo. Como se fosse mágica, um sorriso brotou no rosto dela. Pareceu ficar iluminada.

- Então, vamos começar? - disse o fotógrafo, começando a gostar daquele serviço. Pouco a pouco foram explorandos os ambientes, as luzes, as poses. As fotos saiam com naturalidade, ele pouco tendo que orientá-la. De vez enquando se pegava admirando os olhos dela pelo visor da câmera, era como se eles quisessem dizer algo. Um olhar de... desejo? Logo ele espantou aqueles pensamentos, devia ser besteira da parte dele. Depois de algum tempo, deram uma pausa e foram dar uma olhada nas primeiras fotos.


- Está gostando? - perguntou o fotógrafo.
- Estou - respondeu ela - mas acho que está faltando algo.
- O que seria?
- Ainda estou me sentindo um tanto adolescente nas fotos. Queria algo mais adulto. Nunca tive vontade de fazer um álbum quando completei 15 anos, mas agora quis fazer algo que eu não ficasse com vergonha de mostrar depois. Também quero algo bem feito e andei olhando seu trabalho e gostei do seu estilo de foto.
- Ah, obrigado. Quanto as suas fotos, o que você sugeriria para deixá-las mais a seu gosto?
- Pra começar, estou achando que estou me sentindo presa. Como imaginei que isso poderia acontecer... aceita um pouco de vinho? - disse isso já abrindo o frigobar e tirando uma garrafa de tinto, devidamente gelada. Nem esperando a resposta, serviu duas taças. - E acho que está na hora de mudar de roupa de novo. Volto já. - entregou a taça ao fotógrafo e foi se trocar.

Ele tomou um pequeno gole do vinho, mas não tinha intenção de bebê-lo todo. Além de não ser dos mais fortes para lidar com álcool também preferia manter a concentração por completo. Aquilo era trabalho, afinal.

Ela voltou com um vestido mais curto com decote, um encharpe, um batom vermelho e o cabelo preso. Trazia a taça vazia, com marcas de boca por todos os lados. Usava também luvas brancas, até a altura do cotovelo, e brincos longos. Ele de certa forma se surpreendeu como uma garota tímida estava conseguindo se transformar... numa mulher. Sem saber porque, tomou um gole demorado de vinho enquanto a observava. Ela deu um ligeiro sorriso, achando aquilo engraçado e ao mesmo tempo provocador.

- Queria tirar algumas fotos pelo corredor, pela escada. Como se estivesse voltando pra casa depois depois de um encontro, encantada, pensando no que aconteceu. O que você acha?

- Você realmente sabe o que quer. Dá próxima vez me avisa o roteiro com antecedência, posso pensar em algumas coisas também. - dizendo isso ele deu uma risada.

- É, eu sei o que quero. E normalmente consigo o que quero. - falou, olhando bem nos olhos dele.

Recomeçaram na porta do hotel, pela calçada. Ela seguia como que desfilando, flutando por entre as pedras velhas do calçamento que já vivenciaram tantas histórias. Ela realmente parecia estar apaixonada, radiante com um novo amor. Entrou na pequena recepção do hotel distribuindo sorrisos para todos os lados, sendo retribuída pelo recepcionista. Começou a subir a escada devagar, no que deu um parada e olhou pro fotógrafo por cima do ombro. Ele se pegou sendo surpreendido novamente pela sensação de que aquela garota de alguma forma o tentava conquistar. Entre um lance e outro de escada havia uma janela, ela parou e ficou observando os telhados e as nuvens. Não havia pássaros cantando, mas isso pra ela não fazia a menor diferença. Até que ponto aquilo era encenação ou era realidade, o fotografo não sabia, mas já estava se sentindo envolvido com aquilo. Olhava cada vez menos a garota como um trabalho e passava a vê-la como... uma garota apaixonada.

No corredor do quarto ela foi rodando, como se fosse uma bailarina, fazendo o encharpe dançar no ar ao compasso dos seus passos. Ele foi registrando tudo aquilo, se perguntando se as fotos ficariam tão boas quanto o que via com os próprios olhos. Finalmente entraram no quarto, ela se dirigiu a cama e ficou deitada, olhos fechados, o rosto, tocado suavemente pela mão esquerda, com o semblante radiante. O disco ainda tocava baixo, fazendo ele pensar que realmente estava numa outra época. Deixou de fotografar e ficou admirando a cena. Foi trazido a realidade pela voz suave dela (parecia, na verdade, ser outra voz):

- Como será que ficaram as fotos? Acho que agora ficaram realmente boas!

- Temo que as fotos não saiam tão boas como deveriam. Honestamente, acho que nenhum fotografo faria juz ao que pude ver.

- Assim você me deixa envergonhada.

- Ah, desculpe. Não era minha intenção. Vamos ver as fotos?

Enquanto ele ligou a câmera no computador para visualizarem melhor as fotos, ela apareceu com as taças de vinho cheias. Dessa vez ele ficou com a taça com marcas de batom. Achou graça naquilo. Então sentaram no sofá e começaram a ver as imagens. Entre um arquivo e outro, entre um comentário e alguns sorriso, percebeu um leve perfume tomando conta do ar. Era dela. Perdeu a concentração por algum momento, viajando no sentido aguçado pelo aroma. No fim achou que as imagens ficaram boas, mas de forma alguma comparáveis ao que viu com os próprios olhos. Certamente ficariam melhores com alguma edição.

Achou que o trabalho estava terminado, havia material suficiente para mais de um book de boa qualidade ali. Começou a desligar cabos e guardar tudo quando a garota falou:

- Já acabamos?

- Bem, acho que sim.

- Poxa, eu ainda tinha mais algumas coisas em mente. Será que não poderíamos fazer só mais algumas fotos? Até pago esse horário a mais, se for o caso.

- Ah, não. Tenho problemas com o horário. Fui contratado pra fazer o serviço, não para contar as horas. Se você ainda quer fazer mais fotos, podemos fazer. Só alerto para o fato de ter muita coisa boa e depois vai ser díficil e demorado para chegarmos ao álbum propriamente dito.

- Não estou preocupada com a demora. Pelo menos não com essa. Vou me trocar pela última vez, depois disso eu prometo que está terminado.

- Fique a vontade.

Antes de se trocar ela voltou a encher as taças. Mudou o disco e levou sua taça contigo. Ele ficou a espera na sala do quarto, enquanto ajustava a câmera e trocava de lente. Pouco a pouco ele foi tomando o vinho, percebendo que dessa vez ela demorava mais que anteriormente. A tarde já ia embora, luzes avermelhadas invadiam o quarto pela janela, formando um belo gradiente de cores e desenhos na parede. O vinho já tinha subido a cabeça, ele se encontrava distraído, olhando para a janela quando teve sua atenção requisitada.

Parada na passagem que separava a sala do quarto, ela se encontrava encostada, taça de vinho numa mão, um cigarro aceso na outra, vestida com um espartilho e cinta liga, cobertos por uma camisola quase transparente. Tudo preto, contrastando com com a pela branca da garota. A luz do por do sol criava sombras naquela figura hipinótica. Ele não sabia o que fazer, então continuo olhando-a, de cima a baixo.

Aos poucos ela foi se aproximando, pé ante pé, enquanto tomava um gole de vinho e dava um trago no cigarro. Ele começou a fotografá-la de qualquer jeito. Ela desfilou de um lado para outro, cada vez mais próximo a ele, fazendo caras e bocas e poses. Ele já não tinha dúvidas de que ela queria seduzí-lo, como também não tinha de que ela já havia conseguido. Ele a desejava. Mas aquilo não era certo, ela era de menor. Uma menor que preparou tudo aquilo, de forma planejada, detalhe por detalhe... porém ainda assim ela era menor de idade. Ela tirou a camisola vagarosamente, deixando que ela escorresse pelo seu corpo até chegar tocar o chão. Manhosamente ela se abaixou para pegá-la e depois jogá-la na direção dele. O tempo que ele levou para tirar a camisola de cima da câmera foi exatamente o mesmo que ela levou para dar os últimos passos. Estavam parados frente a frente. Ela deixou a taça sobre a mesa. Retirou a câmera das mãos dele e também a colocou sobre a mesa. Empurrou-o sobre o sofá, sentou sobre o seu colo e soltou uma leve baforada de cigarro em seu rosto.

- Bem, acho que ainda preciso da máquina para fazer as fotos.

- Você não vai precisa de máquinha alguma para o que vamos fazer agora. E pode ter certeza que não serão fotos.

Se estudaram. A diplomacia do iminente tomou as rédeas do entrave. O silêncio dos olhares era inversamente proporcional ao som que os corações disparados produziam. Numa negociação em que a parte relutante (ele) não era convencida pela parte decidida (ela) apenas pelo olhar, lábios sedentos entraram em ação. Mordendo levemente a própria boca, ela se aproximou dos lábios dele. Estes institivamente se entreabriram, certos da sua vitoriosa derrota.


Ela então começou a recolher seu espólio de guerra. Primeiramente, um beijo. O que tomou pra si depois não entrou nos livros de história...

03 junho 2011

Basta um sopro


      Era belo! Dos mais vistosos, diriam alguns. Incontrolável, diriam outros. De qualquer forma, dava gosto vê-lo no ar, brilhante, vermelho. Vivo. Mas não souberam cuidar de ti. Sem quem o mativesse, foi perdendo a razão de ser. Definhou. Vazio, murcho. Quase um vácuo. E de que me serve assim? Qual a alegria de não poder voar quando se foi feito pra viver nas nuvens? Esse cordão que antes segurava, agora pendura. Se for pra ser assim, eu quero mais é que exploda, por não suportar a pressão do que pulsa por dentro! A asfixia da vida sem par, colabado que está, não se permite novos ares. É preciso força para romper a resistência do estar não-contendo. Quase sempre uma solidão oca. Não há beleza na forma amorfa e sem vida. Nem por fora, nem por dentro. Por fim, a degradação. Furos, rasgos. De "não-usado" passou a "imprestável". Melhor desistir do céu azul, o seu futuro à terra fria pertece.

      Mas nada precisa ser desse jeito! Enquanto é tempo, basta uma breve lufada de esperança, quente e leve. Depois, sopros e sopros de ternura, de carinho. Inflado, vai tomando forma e cor. Já não penderá sobre o duro frio do chão. Com os cuidados que a entrega e atenção permitem, será capaz de voar, de sentir. De sonhar. É, coração, talvez você ainda ainda tem salvação.

30 maio 2011

Sobre amar

- Oi!
- Oi!
- Vim o mais rápido que pude. Como você tá?
- Agora eu estou bem, acho até que estou feliz.
- É mesmo? Porque?
- Bem, descobri que não quero mais te amar.
- Mas porque?? Eu gostava tando de você me amando! E você também parecia gostar!
- É eu gostava, mas comecei a perceber que estava me fazendo mal.
- De que forma o amor lhe fazia mal? Amar pra mim é algo tão legal.
- Eu acho que te amo demais e isso faz com que eu me ame de menos.
- Então me ame menos e se ame mais, assim continuamos os dois se amando.
- Você já ouviu falar de coração que aprende a amar menos depois que já provou o sabor de amar muito? Eu não conheço. Só resta deixar de amar.
- Poxa, mas o amor da gente era tão bonito. Como eu vou ficar agora? Amando só?
- Não sei. Não pensei nisso.
- Amar só não é bom. Machuca e depois cicatriza, pra machucar novamente logo mais na frente e então cicatriza de novo. É uma ferida que nunca sara.
- Mas ainda é amor, não foi você quem disse que amor é legal?
- Sim, é amor, porém um amor feio. Você conhece algum coração que depois de ter contemplado a beleza de um amor vai se contentar com a feiura desse mesmo amor? Eu não conheço.
- É, acho que você tem razão.
- O que faremos agora?
- Acho melhor você deixar de me amar também.
- Anda tendo tão pouco amor pelo mundo, porque temos que acabar com dois (ou seriam três: o de um, o do outro e o dos dois)?
- Seu continuar te amando vou acabar deixando de me amar, o que vai fazer com que meu amor acabe. Sem amor próprio eu também não terei como te amar, logo sem seguida o seu amor por mim também acabará. Melhor não nos amarmos agora que podemos evitar o pior.
- E porque não podemos apostar no amor? Ele pode mudar, podemos fazer com que ele seja bom para nós dois. Prefiro arriscar deixar que um amor morra naturalmente porque ele não tinha mais o que amar que matar um amor por puro exercício de futurologia!
- Talvez você tenha razão, o que por si só é estranho, porque o amor não é racional.
- Estranho é você dizer isso! Quem começou com isso de racionalizar o amor foi você!!
- Sabe de uma coisa? Esqueça tudo... eu te amo!!
- Pois agora sou eu quem não te ama mais!!
- Mas porque?!?!?
- Não quero alguém que vê o amor como uma massinha de modelar, que o pega nas mãos e o transforma a seu bel prazer. Quero alguém que veja o amor como um vento: livre e leve, mas ainda assim capaz de pouco a pouco carregar uma montanha. Adeus.

29 maio 2011

Moça

Ah menina moça
você chegou fazendo graça em minha vida
sem pedir licença atravessou o meu caminho
foi se aninhando em meu pensar
cada dia, um graveto
sorrisos, olhares, afetos
fazendo sonhar um coração.

Ah menina moça
você chegou trazendo cor e alegria
e sem dizer porque se colocou em meu destino
agora o que faço?
O pensamento viaja a sua procura
sem te achar onde alcanço
te amando em segredo.

Ah menina moça
você chegou iluminando a tarde
o vento da praia carinhando o seu corpo
inseguro, não sei se te chamo
ou se te amo em silêncio
Um sorrisso seu e tudo muda
o mundo não é mais o mesmo.

Ah moça
agora que te tenho comigo
deixa o tempo passar arrastado
enquando meu colo é sua morada
meus carinhos se embolam na suas risadas
antes de ti eu sentia falta de tudo
agora não preciso de mais nada.

23 maio 2011

Ciclo

O dia acorda, a vida começa
cama, banheiro e mesa
lava, varre, arruma
não precisa ter pressa
porque o dia só tem graça
depois que ela chega.

Estudo, lanche, rotina
almoço, corre, é hora!
mas antes do trabalho
fica tudo mais lindo
eu vejo ela chegar
e me vou sorrido

A tarde passa voando
digita, deleta, imprime
organiza, encaderna e guarda
deu a hora de ir para casa!
Pelo caminho nela vou pensando
Por isso volto sorrindo

Vento frio, lua, estrelas
banho, janta, chuva
Não temos muito tempo
(ele nos enfrenta, inimigo)
a noite acaba na exata hora
que não tenho mais você comigo.

20 maio 2011

A dois*


      "A Lua é conhecedora de muitos segredos. À noite, enquanto ela passeia pelo céu enfeitada de estrelas, observa o que se passa aqui embaixo.

      Era noite de chuva e fazia frio. Dona Lua procurou pelo que há de melhor nessas horas: casais. Algo de instintivo ainda corre nas veias humanas que faz com que se aproveitem das horas de frio, deixando o sangue esquentar e os desejos fluirem. A Lua sabia disso.

      Começou a observar cada praça, cada praia, cada carro. Encontrou uma janela aberta, com uma fraca luz de vela iluminando duas pessoas deitadas numa cama, conversando descontraidamente enquanto se estudavam, se encaravam e se entregavam. Uma garrafa de vinho já tinha esquentado os sentidos, músicas insinuantes preenchiam o até serem evaporadas pelo calor dos corpos. Mas ainda não chegou a hora disso acontecer.

      Fingindo inocência, ela pede uma massagem. Fingindo bondade, ele atende ao pedido. Fingindo não ser nada demais, os dois vão se envolvendo com o clima. A Lua decide que seria ali que ficaria esta noite, pouco se importanto com o tempo. Afinal de contas o sol só sairia quando ela voltasse pra casa.

      Um pouco de óleo de massagem, mãos hábeis, costas nuas. "Delicate" tocando ao fundo. A cada palmo de pele tocado o fingimento ia se dispersando. A chuva caia lá fora, o vento frio invadia o quarto mas o calor só aumentava. Pouco a pouco as peças de roupas iam sendo tiradas, enquanto os corpos iam se aproximando. A barba roçando o pescoço causava arrepios nelas. As mãos delicadas tateando a coxa aumentava o tesão dele. Então os olhares se cruzam bem próximos, ao alcance dos lábios. Um beijo. Duas línguas. 5 sentidos trabalhando a todo vapor.

      No desencontro das bocas, ele começa a morder levemente as costas dela, descendo até o cóccix, deixando-a mais arrepiada ainda e ansiosa pelo que viria depois. Era hora de sentir e ser sentida. Extravasar o desejo contigo. Ela se liberta das amarras que o desconhecimento poderia, ainda, lhe ocasionar. Era livre para se entregar.

      Invertendo o comando, passou ela a fazer carícias nele. As mãos explorando o corpo masculino, até então intocado e inalcançável; os olhos atentos aos efeitos dos carinhos. Respirava ela colada a orelha dele, que vez por outra escutava sussurros impublicáveis. Mordidas também foram distribuídas por ela até chegar a boca alheia, quando então ficaram os dois frente a frente, ela sentada no colo dele. Trocaram um beijo molhado e ardente, as mãos leves e de dedos finos por sobre o peito, a vontade aumentando.

      Ela calculadamente para com as carícias, restando somente suas unhas marcando os braços do rapaz. O encara, provocante. Como resposta se vê em segundos deitada na cama, ele por cima. Como um lutador, segura-a pelas mãos e pesa o resto do corpo sobre a cintura. Ela não tem como sair. Aquilo provoca um aumento na excitação dela, ao mesmo tempo que ele morde sua boca. Então se vê encarando a parte mais protuberando dos seios dela, pronto para serem mordiscados e lambidos, cada um a seu tempo.

      Outro beijo acontece, invertem-se as posições, aumenta a temperatura. As mãos se juntam, se cruzam e descem até a cintura da garota, a diferença entre as temperaturas mostrando aos dois que havia muito a ser explorado, sem tempo a perder, sem hora para acabar. A cintura dela pressionando o volume crescente da cintura dele, mãos sendo amarradas, mais beijos e mordidas, uma boca chegando ao limite do sexo. Ela se toca para ele. Ele se livra dos nós, abraça-a e lhe arranha as costas. Joga-a de bruços na cama, agora sendo ela a amarrá-la, calculadamente deixando as mãos delas próximo à virilha, por baixo do dois corpos fumegantes. A barba agora estava arranhando a parte de trás da coxa dela, subindo até encontrar as mãos dela, que se masturbava intensamente. Ele invade-a com língua, os gemidos dela abafados pelo travesseiro, os gemidos deles abafados por lábios vaginais molhados e convidativos. Sorvido por ele parte do desejo que escorria por entre as pernas dela, as bocas voltam a se encontrar, os corpos mudam de posição, ela retribui a chupada, ele cada vez não se contem e a coloca por cima, penetrando aquela vagina apertada. A movimentação acontecia pouco a pouco, em busca do ritmo que levariam os dois ao ápice do prazer; ela rebolava cada vez mais vigorosamente, ele apertava-a pela bunda, puxando em diração a si. Ela fica por baixo, cruzando as pernas por trás das costas dele, ele enfiando com cada vez mais vontade e tesão. Ela gemendo sem pudores, arranhando qualquer parte do corpo dele que pudesse alcançar, massageando e apertando os próprios mamilos. Pela última vez ela fica por sobre ele, somente a tempo de sentir o gozar dele por dentro de si, o que desencadeia o gozar dela. Os dois, fracos, ofegantes, abraçados, fora de sintonia com o mundo, completamente sincronizados um com o outro, aos poucos vão recobrando os sentidos. Ele alisa o cabelo e as costas dela, ela lhe dá um beijo carinhoso e um abraço apertado. Ele é o homem mais realizado do mundo; ela pressentia que passaria dias abismada com aquilo. Os dois descansam.

      A Lua, invejosa e satisfeita do que viu decide que é hora do dia nascer. Manda uma estrelha acordar o sol e avisar que ela está voltando pra casa e ele tem que trabalhar. Então anota no seu caderno de segredos o que presenciou, mesmo sabendo que somente ela, além do casal, entenderia o que se passou naquela noite fria e chuvosa...


* Texto escrito, de certa forma, a 4 mãos. =D

09 maio 2011

Toque do passado

      Dia 03 de julho deste corrente ano haverá uma festa. Provavelmente só comigo mesmo. Meu blog completará 5 anos.

      Como presente pra ele (e, logo, para mim também) vou finalmente catalogar todas as postagens. Assim vou poder indicar as linhas que mais gostei de publicar aqui, reler o que escrevi e reencontrar velhos blogs já lidos. Essa é uma das coisas boas de receber comentários. =D

      Talvez eu pense em algum tipo de promoção, brinde ou o escambal, mas ficaria imensamente feliz se vocês que de alguma forma leram meus escritos e por ventura os acharam válidos para algo (mesmo que seja para dizer que são ruins) também deveriam pensar em algo. Comentários, textos para serem publicados aqui a partir do dia 01 de junho, fotos, vídeos. Fiquem a vontade.

      Ao poucos eu vou pensando melhor nisso tudo.

05 maio 2011

Realismo fantástico


      De vez em sempre recebo perguntas sobre o que escrevo aqui. Se um determinado texto é sobre alguém, se determinado fato é real e até mesmo se eu faço plágio de escritos menos conhecidos. Acho engraçado. Engraçado ao ponto de me divertir com esse tipo de dúvida. É da minha natureza rir do mundo. Como muitos me chamam, sou um bobo.

      Tudo que um dia foi postado aqui sou EU, com direito a caixa alta. Não necessariamente criado por mim, mas contextualizado, digerido e exposto ao meu modo de sentir e viver a minha vida. A tudo cabe interpretações pessoais e esse blog aqui é quase o ápice do que minha pessoa é capaz e se permite (precisaria de muito mais que palavras e fotos para chegar ao meu máximo e isso ainda não é possível por uma conexão e um computador). Tudo que eu crio é meu, com suas fantasias e veracidades, só fazendo completo sentido aos meus olhos e interpretações. Aos outros olhos de quem lê, pode significar muita coisa, inclusive nada. Se algum dia eu pensar em tornar-me escritor profissional talvez me preocupe mais com as diversas possibilidades de leitura dos meus textos. Por enquanto preocupo-me apenas em reconhecer-me nas minhas leituras posteriores. Sempre me encontro.

      O que por ventura for de outros autores é devidamente creditado, no geral no final do post, porém só estão aqui porque eu de alguma maneira achei que era válido.

      Mas o que é fantasia? O que de fato aconteceu e veio parar aqui? Resposta cult e/ou filosófica a parte, tudo e nada. As percentagens de cada ingrediente são aleatórias e ficam ao meu gosto. Mesmo que eu relatasse tudo da forma mais fria e direta possível não diria que seria A realidade. Seria, somente, a minha realidade. Outras pessoas que fizessem parte dos acontecimentos teriam opiniões e interpretações diferentes da minha. Não me atreveria a dizer que estão certos ou errados.

      Então qualquer pessoa pode se reconhecer nessas linhas. Eu me reconheço em tanta coisa que não foi feita por mim e me aproprio daquilo como parte irrevogável do meu ser e sentir. Não me importo se só faz sentido para mim, não vim trazer sentido ao mundo.

      Cada vez que encontro alguém que é capaz de sentir as mesmas coisas que eu em determinado momento me sinto maior. Agora aquela sensação daquela pessoa me pertence e as minhas pertencem a ela. Continuamos sendo únicos e ao mesmo tempo passamos a ser um só. Não conseguiu entender? Leia de novo a última frase do páragrafo anterior e já terá sua resposta.

28 abril 2011

Quando a chuva vem


      Mas que chuva é essa que cai lá fora enquanto a noite é escura? Será a chuva que lava a alma e enche de esperança o peito daqueles que estão secos de alegria ou será a chuva que dissolve os sonhos e os desejos, afogando cada célula de viver em descontentamento?

      Enquanto estiver no meu mundo não tenho que me preocupar com a chuva, ela não passará de respingos na soleira da janela. Não matará a minha sede nem me levará embora, mas ouvirei contente o batucar das pequenas gotas.

      Só que a chuva me chama, me atrai, me instiga. Talvez um anseio contra a minha aridez (há sempre um sertão dentro de nós esperando para verdejar), provavelmente a necessidade de transbordar o copo dos meus lamentos e desrepresar o se acumula nesse posso sem fundo que é a alma. Ei de ir lá fora arriscar. Enquanto isso deixo meu mundo desguarnecido do seu significado em si: Eu.

      Não espero ser o mesmo depois da chuva, há algo de metamórfico no ar que entremeia as lágrimas das nuvens. Apenas feche os olhos e sinta as pequenas mudanças que acontecem a da molécula de H2O que percorre sua percepção.

      Meu mundo sou eu. Mutado pela chuva, posso não ser reconhecido por ele e, portanto, não me reconhecer. É estranho ter que arrombar a porta e tomar de assalto o que já lhe pertence. Deixo a chuva lá fora, ela não faz parte do meu mundo e enquanto me livro das roupas encharcadas, penso se valeu a pena arriscar.

      Quem eu era? A chuva levou e nunca mais voltará. Quem eu sou? A mesma chuva não há mais de mudar. Quem eu serei? Nenhuma chuva pode afirmar.

26 abril 2011

Um pedaço completo

      Aqui onde estou posso ser o que quiser e não há quem ou o que possa me impedir do contrário. Meu quarto é meu mundo, meu reino. Exijo respeito a mim e a ele, sob pena de ter a cabeça cortada ou, ainda pior, ser malquisto nessas terras.

      Aqui onde estou a gravidade não pesa e o tempo não passa. São meus súditos e parceiros. O dia e a noite são meramente o estado da lâmpada que brilha e aquece, a um único desejo posso mudá-lo. A brisa que sopra ou o furacão que tudo arrasa vem do meu ventilador, resposável também que é do barulho do trovão.

      Aqui onde estou eu escrevo, toco, pinto e bordo como ninguém. Todas as melodias são minhas, todo os sentimentos e desejos também. Sou menestrel e platéia, com direito a aplauso e bis no final. Até me faço de bobo de corte e riu de mim mesmo. Acho isso tudo engraçado.

      Aqui onde estou sou diplomata e exército, juiz e juri. Minhas decisões são inapeláveis e, por isso mesmo, completas de justiça. Todos são bem vindos até que me mostrem, demostrem e comprovem disposição do contrário. Daí então a tranca da porta será serventia do reino (mas pode acontecer um indulto esporádico, sem muita periodicidade).

      E se, por bondade deste monarca que vos escreve, lhe for permitido usufrir do conforto e do aconchego da cama, saiba retribuir na mesma moeda. Sinceridade, respeito e um pouco de carinho são sempre bem vindos (melhor se acompanhados de alegria e companheirismo).

      Aqui onde estou tenho tudo que preciso. Por vezes eu sinto falta de algo e me descubro explorando outros mundos, outros reinos. Invado o covil, enfrento a fera e recolho meu tesouro. Então volto a viver no meu reino. Feliz.

22 abril 2011

Madrugada vazia

      A essa hora, quando quase todos dormem, eu fico esperando. Esperando. E não chega. Cadê?

      É na madrugada que me sinto mais a vontade, que sinto mais vontade. O silêncio e o escuro só preenchem meu quarto de vazio. Onde se encontra o brilho e a melodia desses momentos? Anda distante, bem distante. Será que volta?

      E o que era alegria e ternura se torna a insônia me puxando pelo braço para a cama vazia. Sem graça. Não aceito o travesseiro inodoro, imóvel, intacto. Tem como?

      Quem espera sempre sofre. Talvez, um dia, alcance. Espero ser está a minha sorte.

15 abril 2011

Suave

      O dia passa rápido quando se está leve. Aquela sensação de que tudo está certo, mesmo que esteja tudo da maneira que ontem, quando nada era muito bom. Quando você quer que o tempo passe devagar, ele voa, quase se teletransporta pro futuro. Pois devia deixar de ser mal criado e ficar quieto, pra eu poder aproveitar melhor a sensação (isso foi quase um plágio de Móveis coloniais de Acaju).

      Acordo sem pensar muito no meu dia, ele não deve ser muito diferente que o anterior, uma rotina entendiante de poucas emoções. As mesmas caras, os mesmos lugares, a mesma atmosfera. É como acimentar as raízes de uma árvore, ela para de crescer, murcha e pode até morrer. Sobrará um tronco onco e podre. Carcaças.

      Eis que então uma brisa errante sopra no rosto e espalha os cabelos. Junto com o frescor do sopro, traz também o aroma das mudanças. Nada que destrua os alicerces ou provoque cataclismas; é só um fato novo que traz consigo esperança.

      A árvore que não tinha mais seiva, tendo perdido toda a sua vida, agora tem um pedacinho de terra para se alimentar. Ela ainda não dará frutos ou será uma agradável sombra e ainda terá muito o que procurar para se tornar exuberante, mas já terá uma folha. Uma cosquista. Uma esperança.

      O dia continua passando rápido e a noite já vai indo, mas a brisa suave que varre a poeira não me deixa mentir: algo bom vem vindo.

13 abril 2011

Disritmia

De pouco a pouco um salto, um descompasso marcado
desejo exasperado de possuir o que ainda não tenho
que aos poucos vai crescendo numa transmutação quase instatânea
ao ter você nos meu olhos e imaginar o teu cheiro
Deixa me embolar nos teus cabelos, misturar nossas peles
duas cobras criadas, um tanto malcriadas
outro tanto, bem servidas
e num ritmo dissimulado cada qual a sua maneira
desejando do outro um vacilo (melhor ainda, um bote alheio)
pois o receio é um charme que nos tempera por dentro
dança sem passo certo, mas de compasso intenso
acompanhado de um som teso e abafado
nessa hora tardia, com os corações disparados
a disritmia vai tomar conta do espaço...

11 abril 2011

As medalhas já não brilham no peito

      Guardo meu passado muito bem, em forma de lembranças, fotos e pedacinhos de papel. Estão lá para serem resgatadas assim que bate a nostalgia. Ou a necessidade de arrumar o guarda roupa (no sentido literal ou metafórico).

      No meio desses relicários envelhecidos, me deparo com alguns pedaços de metal enferrujados, com algumas letras e números gravados. Medalhas. Pequenos símbolos de grandes conquistas que o tempo transmutou em grandes símbolos de coisa nenhuma. Apenas metal, ferrugem e um pouco de lembrança. Ou nem isso.

      Uma a uma foram enfileiradas na mesa, como se fosse um exército vencido a caminho da execução. Não havia mais orgulho em exibí-las, o brilho se foi para nunca mais. Melhor se desfazer delas.

      Não espero mais ganhar medalhas pelo que conquistar. Prefiro as fotos, os pedaços de papel e, principalmente, as lembranças.

05 abril 2011

Sometimes it lasts in love, but sometimes it hurts instead*

      E eis que completei 8 meses solteiro. E sozinho. De forma alguma isso é bom, mas acho que aprendi algumas coisas nesse tempo. A solidão é, também, uma forma de aprendizagem, mesmo que as duras penas.

      Aprendi a me controlar um pouco mais, a repensar meu passado e procurar consertar o que talvez tenha feito de errado. Percebi que aos olhos do tempo nada é imutável. Mesmo o amor, mesmo a raiva, mesmo a indiferença.

      Queria agora poder dizer que estou feliz, que meu coração está leve e que minha cabeça está sã. Queria, mas não posso. Me faz falta alguém. Um ombro, um colo, um sorriso. Aquele abraço que aquece e proteje, mesmo quando está quente e nada de errado pode acontecer. Alguém para eu pode pensar e me sentir completo na hora de dormir. É só uma pessoa, mas nunca vai ser qualquer pessoa.

      As primaveras me fizeram aprender a gostar melhor e por isso mesmo é difícil deixar esse gostar pra trás. Sempre precisei de muito tempo para me sentir preparado para o próximo amor. Eu sou assim e não vejo porque ser de outra forma. Hoje posso dizer, também, que não espero que alguém seja igual a mim, independente da dor que isso vai me causar. Sim, meu peito vai rasgar e eu vou querer desistir de amar novamente, só para não ver quem eu amei indo embora mais uma vez. Sim, vai passar. Sempre passa. Sempre fica algo de mim, despedaçado que fico. E é isso que importa. O curar não é importante.

      Não quero verdadeiramente a infelicidade de ninguém pois já me basta a minha para ver que o mundo não tão feliz quanto queria que ele fosse, mas tenho o direito de invejar a felicidade que não me é permitida. Não preciso roubá-la. Assim seria mais infeliz e, pior, sem paz. A felicidade que procuro é só minha, sem divisões e sem restos. Plena e completa de si, em si e para si. Para mim.

01 abril 2011

Findo 2



      Não gosto de finais. Quer dizer, não gosto quando esse final está relacionado a mim. Não posso controlar o mundo nem as pessoas e fazê-las entender que o fim é ruim, então tenho que está preparado para eles. Mas não queria.

      Eu gosto de graça das pessoas a quem tenho apreço. Faço o que faço por elas sem pedir troco. Talvez, por vezes, goste de uns afagos na alma e não acho isso errado. Relações desequilibradas são nocivas para todas as partes. Não quero para mim, não desejo para ninguém.

      Escolhas. Renúncias. Disso é feita a vida. Nem sempre ganhamos, mas quase sempre perdemos alguma coisa. Ou alguém. Não deveria ser assim.

      E se por esses dias fiquei contente por ter retomado contato com alguém que foi importante pra mim, mesmo que por pouco tempo e tudo tenha terminado de forma confusa, por outro lado acabo de perder outra pessoa igualmente importante, com quem compartilhei boa parte da minha vida nos últimos 3 anos (pensando agora me parece que foram bem mais). Não que ela tenha morrido, tomado chá de sumiço ou ido viver num lugar ermo da Terra. Foram escolhas e renúncias.

      Tenho sim tristeza no meu coração, mas essa se desfaz com o tempo. Vão ficar comigo somente as boas lembraças. O sorriso. O sotaque engraçado. Os convites de aniversário mais legais que já recebi (e, pior, tive que recusar). A decepção de nunca ter podido fotografar um dos sorrisos mais bonitos e gostosos que já vi. O cabelo curto aos 23 anos. Nem tão curto aos 24. Do desejo de ver o mar.


      Si, seu lugar ainda tá guardado no meu coração. Espero que você um dia queira-o de volta. Não precisa de esforço. É só mais uma escolha.

PS: Cuida bem do Vinícius, tá?

31 março 2011

Findo

      E então é dia 31 de março. Nada aconteceu. A estrelas não se afogaram no mar e este também não se transformou em sertão. A única seca que me racha a alma é a do coração.

      Ainda me sento na frente do computador esperando que algo extraodinário aconteça e me venha inspiração pra alguma coisa. Qualquer coisa. Só que essa moça deve estar fazendo como todas as outras moças: passando e nem me notando.

      Até a lua, que tanto já me acompanhou noites a fio, resolveu chegar mais perto pra espiar e não gostou do que viu. Resolveu voltar para o lugar de sempre e me deixou a ver navios.

      Calmaria seria bem vinda por aqui, porque no momento só sinto estagnação.

24 março 2011

31 dias de vazio

      Março chegou, jantou e tá se despedindo. E eu fiquei na varanda, pensando que aqui o calor seria menor. Não foi. Um inferno, isso tudo.

      E não teve carnaval, aniversário de cidade ou perigeu lunar que me fizesse entrar no ritmo que preciso. As horas não deixaram de passar por minha causa, os grãos de destino constinuam escorrendo na ampulheta. Pior de tudo é saber que no final não posso virá-la e começar tudo de novo. Ou, quem sabe, continuar tudo de velho.

      Saio de casa, encontro os amigos e me divirto. Até demais para quem tem obrigações como as minhas, mas algo me falta. Devo estar procurando no lugar errado ou da maneira errada. Talvez as duas coisas.

      Uma semana para o fim do mês e então vem outra folha no calendário. Ficarei feliz se minha vida também mudar.