Sentir menos
Sem ter mais
sem tentar
sentimentos
soluçar
sem dançar
sabe lá
sem e só
solidão
16 janeiro 2013
15 janeiro 2013
O som ao redor
"Cama, guarda roupa, ventilador, computador e violão. Um quarto simples, de alguém nem tão simples assim. Não precisava de muita coisa além disso, um pouco de água e alguma coisa pra enganar a fome até a hora da barriga roncar, como que avisando sobre os problemas da inanição. Não era só de alimentos que a barriga reclamava, nem todo carboidrato do mundo consegue saciar os sentidos. Os sentimentos.
Havia espaço demais. Na cama, no guarda roupa, no peito. Imensos latifúndios improdutivos, plantados de desejos não concebidos. Nas cordas do violão não encontrava tranquilidade, cabeça inquieta e voando longe. Nunca soube tocar e ainda assim achava seus caminhos por entre lás e dós, esperando a hora que o sol iluminasse a penumbra. A luz não veio.
E no entanto a música há de salvar. Se não a própria, filha deformada parida a fórceps; as de outros e outras, belas crianças que crescem e seguem seu rumo. E naquele parque de diversões de músicas com pai e mãe, algumas são escolhidas para brincar. Aos poucos o vazio não é tão incômodo, se fazendo de ar para refrescar. A cama não parece tão vazia e o violão já virou um par, parceiro mudo que sabe a hora de calar.
Sem se dar conta, uma música carrega entre sua melodia uma saudade, que se aconchega no travesseiro macio da solidão. Sons transformados em imagens, reais e vivas e ilusórias. E sabia que aquilo tudo foi sem nunca poder ter realmente sido. Os abraços, os sorrisos, os beijos. Imagem de som te cheiro, tem tato e tem paladar. Não queria lembrar da multidão que envolvia, só de belos olhos negros que vez por outra diziam coisas belas antes de calar a própria boca com outra boca. A sua boca.
Músicas não tem donos. Elas não pertencem a alguém, a algum lugar ou a algum momento. Elas são livres para serem o que quiserem. E essa música era pura saudade e foi quando o verso lhe abriu o coração:
"Is that a ufo or a shooting star?"
Foi tudo aquilo algo fora da compreensão ou, como uma estrela cadente, algo tão efêmero e intenso que se apoderou de uma música para mandar recado? Então talvez tenha direito a um desejo: libertar a música.
Abraçou a saudade, o travesseiro e deu boa noite ao violão.