Inverno
é tudo que sinto
viver
é sucinto
Paulo Leminski
Domingo, dia cinza, inverno invadindo o quarto pela janela. A cama parece o único lugar que resta no mundo. O aconchego, o abraço, tá tudo nela, só falta ela fazer cafuné. Me estico todo pra pegar um livro na cabeceira, o mesmo que me acompanha para quase todos os lugares nos últimos 3 anos: Toda Poesia, do Paulo Leminski.
Lendo os versos do bigodudo curitibano, me lembrei de quando comprei o livro. Ano de 2012, viagem de férias. Depois de muito tempo sem viajar, por vários motivos que hoje parecem mais desculpas para evitar o desconhecido, planejei meus dias de férias (todos eles e mais alguns, na verdade) para desbravar o mundo. Acabei me descobrindo.
Desse dia em diante passei a querer viajar mais, conhecer mais pessoas, mais lugares. Isso tudo para me conhecer melhor, para me tornar alguém mais atento e empático com o que me rodeia. Brasília, São Paulo, algumas cidades de Minas, Vitória, Rio de Janeiro, Curitiba, Manaus. Cidades bem diferentes, com costumes diferentes e ainda assim cheia de pessoas com atitudes iguais. Calor, frio, simpatia, indiferença. Encontrei muito pelo caminho, anseio por encontrar mais.
E foi entrando numa livraria em São Paulo, num mês de julho em que experimentava pela primeira o inverno paulistano, que me deparei com aquele livro laranja, num tom tão berrante que quase dava pra ouvi-lo grita "Me leve!". Levei. E também estou sendo levado, seguindo um caminho que não faço a mínima ideia onde vai dar.
No entanto, o livro que tenho comigo não é o mesmo que comprei anos atrás. Este foi deixado como presente pelo caminho, depois de uma tarde de chuva, café e um apartamento bagunçado, onde ouvi o livro me gritar "Me deixe". Entendi que era um pedido do próprio Leminski, afinal estava em Curitiba. Não me fiz de rogado, nunca me apeguei a livros. Acho que eles são livres e desejam correr o mundo tanto quanto eu.
Depois de um tempo me peguei com vontade de ler tudo novamente, Leminski hoje me é tão importante quanto Vinícius de Moraes me foi na adolescência. Fui na livraria e comprei outra edição. Novo exemplar, mesma sensação: enquanto houver inverno e Leminski, não vou me sentir só.
Nem completo.
Talvez seja hora de arrumar a mala.