02 agosto 2011

Reflexões


      "Olhando no espelho percebeu algo de estranho no próprio olhar. Um brilho que não costumava ver em si mesmo a muito tempo agora estava ali, refletido. Gastanto um pouco mais de tempo e atenção naquela imagem especular eu entendeu do que se tratava. O passado tinha vindo lhe visitar.

      Buscando fundo a origem daquele brilho encontrou lembranças a muito dadas como adormecidas fazendo uma festa. Como se comemorando o retorno de algo ou alguém, copos cheios de alegrias e gargalhadas, pratos de carinhos e afetos servidos quentes, recém saídos do forno. Tudo isso anda em falta na sua vida atual, vazia de significados, de abraços e de lembranças novas e boas. Faltava-lhe até metáforas e uma vida sem metáforas não pode ser chamada de vida.

      Projeções passaram pela sua retina como filmes. Longas metragens, curtas metragens, propagandas. Todas aquelas coisas vividas em tempos idos e revividas em sessões fora da programação. O bilheteiro e a platéia era uma pessoa só: ele mesmo. E o preço só será sabido na saída pois nenhuma lembraça retorna de graça. Sempre se paga algo por elas.

      Absorto pelas lembranças, ele foi, pouco a pouco, se afastando do espelho, esperando que isso fizesse tudo voltar ao normal. Então perdeu de vista o brilho no olhar. Voltou a ser o vazio que se tornara."

2 comentários:

Ana Rosa disse...

O espelho reflete além da figura a sua alma que só você pode enxergá-la. Detalhe: Não adianta odiá-lo. Ele reflete exatamente o que você é.
Adorei seu texto.

Carol disse...

Você é muito mais do que as lembranças da sua vida. Não se apegue a elas mais do que o necessário.