09 outubro 2015

A outra metade da laranja



      Terminado.

      Após muito tempo de enrolação, terminou de ler o livro que acumulava poeira na cabeceira da cama. Só então percebeu a capa amarela, imitação de um classificador antigo com uma etiqueta tão velha quanto, dessas que não devem ser mais encontrada. Vida moderna, soluções eletrônicas para coisas simples. Quando acaba a bateria...

      Percorreu mais um pouco o livro traçando um roteiro diferente do habitual. Informações sobre gráfica, registro no ISBN, tipo de papel. Nisso se deu conta da autora do livro: uma cantora e compositora de uma das bandas mais legais que conheceu nos últimos anos, coisa fina. O livro é tão caótico e delicado quanto as músicas, em alguns momentos não se sabe se é viagem de ácido ou simplesmente falta de atenção na leitura. Volta página. Algo parece ainda estar fora do lugar. Melhor criar contexto: hora de por as músicas pra tocar. Tinha todos os mp3 existentes da banda no HD do computador, mas preferiu arriscar o Spotify. Tava lá, tudo organizado por disco e número de faixa. Isso é estranho, no HD está pela ordem alfabética do nome das músicas. Não importa; DJ, sobe o som (mas não muito porque já passou da uma da matina, o povo em casa tá dormindo e já bastou o alarme da casa ao lado ter tocando algumas vezes essa noite).

      Voltou às páginas. Desenho de dois corações dentro de um liquidificador (chamado de vitamina de amor), pensou na metáfora metalinguística envolvida naquilo. Para misturar era preciso bater e destruir, ia ter dor envolvida para que houvesse um envolvimento maior de cada parte. Um misturado ao outro. Ia ter mais dor quando fossem separar. "Estar perto requer outros dons", soa a música.

      Lá pelo final, nas páginas negras com letras brancas, o nome de todo mundo que contribuiu para que o livro existisse. Financiamento coletivo via internet. Vida moderna, solução eletrônica para coisas (nem tão) simples. E precisa bater a meta. No meio de tanta letrinhas, encontrou seu apelido lá pelo final. Bateu aquele orgulhinho besta. Bateu também a curiosidade de saber o nome das pessoas que ajudaram, quem viajou na maionese junto. Lá pela metade se deparou pelo nome da única pessoa que veio lhe falar da banda sem que tivesse enviando uma música de degustação antes. Não tinha pensado nisso antes de correr a lista, mas nada fora do normal. Daí então começou a tocar uma música: "Uhhhh is that a ufo or a shooting star?". E lembrou que logo depois vinha "I'm travelling on mayonese".

      Viajando na maionese lembrou do único show da banda que assistiu até hoje. Circo Voador, RJ. Primeira vez na cidade. A companhia parece ser a melhor para a ocasião, cantaram juntos, sorriram juntos, quase choraram. Abraços, beijos. Quantos sorrisos. E parecia que todos os carinhos e planos futuros eram perfeitos. "I don't believe in fairy tales / But i'm stuck in one"+"Mas ninguém muda ninguém" = tudo errado. A ex-companhia não fazia mais parte da sua vida. Nem das pessoas que contribuíram para o livro.

      Melhor assim. Quando uma relação envolve músicas maravilhosas e a vaca vai pro brejo, não tenha dúvidas: fique com a banda.

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