02 março 2012

Um sopro

      Toda a noite é o mesmo frio. Um frio seco e áspero, como lixa desgastando o viver. Pouco a pouco congelando a esperança, transformando-a em floco de neve que, teimando em ser mais pesado que o querer se perde entre tantos outros flocos.

      E o frio vai tornando tudo mais difícil, mais distante, mais opaco. O futuro é só uma lembrança distante, algo que nunca chega e, ainda assim, já passou faz tempo. Não há verão, outono ou primavera; invernados os ponteiros do relógio e tudo se torna árido. Houve vida um dia, hoje apenas se ouve o silêncio do tempo.

      Mas nessa noite eu deixei aberta a janela do desejo e me soprou, leve e aconchegante, uma brisa. Desagasalhei o coração para que, livre todas as camadas de proteção que os desamores nos fazem carregar, pudesse mais uma vez sentir o beijo suave do vento.

      Quanto mais a brisa sopra, mais poças se formam pelo descongelar da esperança. Nelas se reflete o brilho incandescente da paixão. Há, nesse solo nu, sementes. Alguma há de vingar. Florescer e frutificar é preciso. Que seja primavera.

      Do frio de toda noite, me dispeço.

3 comentários:

@freestyless disse...

muito bom esse blog...pra quem curti o tema terror de uma olha no meu blog: http://historiasdeterrorlendasurbanas.blogspot.com/

CRIANDO MEU RITMO disse...

Oiê Thito, saúde, amor, alegria, luz e paz...
Amei tudo o que li até agora, amei sua percepção clicada, mas, o que mais me encantou(desculpe-me), foi a simplicidade e a sinceridade de sua apresentação. Nossas idades estão muito distantes, mas seu ponto vista, sua maneira de encarar a vida, é um pouco parecida com a minha, embora eu tenha percorrido mais estradas e levado muitos tombos. Perdão pela ousadia da comparação. Me formei em Letras(Português), em Direito, aprendi a tocar piano, violão, agora, sou aposentada e estou aprendendo a ser arteira, não artesã, mas...tudo bem. O que importa, é a continua busca do prazer, da emoção, da alegria. A nossa energia vem daí, dos momentos felizes também. Então...tudo bem. Carinhoso e fraterno abraço de uma vovó que só faz o que ama e ama muito o que faz.

Anônimo disse...

bonito mesmo.