15 abril 2011

Suave

      O dia passa rápido quando se está leve. Aquela sensação de que tudo está certo, mesmo que esteja tudo da maneira que ontem, quando nada era muito bom. Quando você quer que o tempo passe devagar, ele voa, quase se teletransporta pro futuro. Pois devia deixar de ser mal criado e ficar quieto, pra eu poder aproveitar melhor a sensação (isso foi quase um plágio de Móveis coloniais de Acaju).

      Acordo sem pensar muito no meu dia, ele não deve ser muito diferente que o anterior, uma rotina entendiante de poucas emoções. As mesmas caras, os mesmos lugares, a mesma atmosfera. É como acimentar as raízes de uma árvore, ela para de crescer, murcha e pode até morrer. Sobrará um tronco onco e podre. Carcaças.

      Eis que então uma brisa errante sopra no rosto e espalha os cabelos. Junto com o frescor do sopro, traz também o aroma das mudanças. Nada que destrua os alicerces ou provoque cataclismas; é só um fato novo que traz consigo esperança.

      A árvore que não tinha mais seiva, tendo perdido toda a sua vida, agora tem um pedacinho de terra para se alimentar. Ela ainda não dará frutos ou será uma agradável sombra e ainda terá muito o que procurar para se tornar exuberante, mas já terá uma folha. Uma cosquista. Uma esperança.

      O dia continua passando rápido e a noite já vai indo, mas a brisa suave que varre a poeira não me deixa mentir: algo bom vem vindo.

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