03 janeiro 2011

Sobre ter e perder

"You make it easy to watch the world with love,
You make it easy to let the past be done,
You make it easy."

      A solidão é uma companheira que não satisfaz, fria e insensível quanto ao trato do coração alheio. Ter alguém é, antes de tudo, uma conquista de quem se propõe a abrir mão de parte de sua vida para fazer parte outra vida.

      Como negar o prazer de acordar bem por saber que alguém lhe quer bem? É pensar e planejar a dois como se fossem um, dividindo alegrias e conquistas dessa vida por vezes mesquinha, arrogante e individualista dos tempos atuais. É sentir o calor de uma mão em sua mão, do abraço na hora de dormir de conchinha, de saber num olhar o que o outro pensa, sente e lhe entrega.

      Quando uma voz tem o poder de nos transformar, quase como um alucinógeno, e um perfume nos trás lembranças de uma felicidade que é pessoal, mas só pode ser alcançada a dois, tem-se a prova de quanto alguém pode e é importante. Experimente isso e descobrirá que você nunca mais será o mesmo, sofrendo abstinência quando for privado da sensação de estar com esse alguém.

      O alguém não é qualquer um(a), é aquele(a) que deixa de ser indefinido(a) para ser imprescindível. Mas...


"Há coisas que não voltam mais
Chorou, chorou
Sombrio, mas certeiro
Só um frio
Passageiro."

      ... talvez algum dia esse alguém lhe deixe (ou seja deixado), de uma forma que não é possível entender pela parte preterida. E como uma mordida na maçã envenenada pela bruxa, tudo muda. O toque da mão é frio, a voz irrita e o perfume não passa de um cheiro enjoado e nauseante. Quem ainda vai pensar em planos, quando nem existe mais o número do telefone? A lembrança do rosto só assusta, uma assombração perversa que parece se alimentar da tristeza.

      A solidão então lhe aparecerá, interessada e interessante, com seus dentes amarelos e um hálito de desprezo. Tentadora, tentará de um tudo para que não se queira mais nada. Não haverá nada mais importante que o próprio umbigo nem maior que o próprio ego.

      E lá pelas tantas, depois de se acomodar nos braços lânguidos da solidão, algo acontecerá. Alguém vai aparecer e aí...

2 comentários:

Ana Cláudia disse...

Há coisas que não voltam mais.
snif

Day Pinheiro disse...

eu tô tão, mas tão acomodada nos braços dessa tal solidão, que foi dela que já enjoei. me deu 'cansêra'.

quem bate à sua porta, heeeeeeeein??
se bate, abra! oras!