31 outubro 2008

Falta tanta coisa na minha janela...

      O menino era livre. Corria, pulava e cantava como nenhum outro. Era feliz também. Sorria, abraçava e sonhava como ninguém poderia fazê-lo. E adorava ver a lua todo dia a noite, da sua enorme janela aberta. Quando chovia ele saia pela janela e se banhava nas gotas que caiam, como estrelas cadentes.

      O menino cresceu. Se transformou num jovem vistoso. O brilho nos olhos, o poder nas palavras. Só que o mundo tinha mudado, já não podia mais fazer o que lhe era de agrado. A lua, ainda bela no céu, ficou mais distante: na sua janela colocaram grades, para que ninguém por ela entrasse. A chuva se transformou somente em pingos de água, sem a beleza que uma dia tiveram.

      O jovem cresceu. Já não era tão belo, pouco sorria. Não conseguia ver o que passava a sua volta, sempre a cabeça estava longe. É, finalmente virou adulto. E com a preocupação de quem tem medo, colocou uma tela, para que não mais se incomodasse com os pequenos barulhos voadores da natureza. E a lua se transformou num borrão; a chuva, em lágrimas.

      E o adulto pereceu. Caducou. E agora era somente um velho, dos que nem sobe uma escada. A dor se espalhava, do coração vazio para a pele enrugada. E foi morar num apartamento, com suas janelas apertadas. Mas elas eram livres, como o menino que sonhava. E o velho chorou ao ver: a lua, a chuva e o que deixou de viver pela estrada...

Um comentário:

Si disse...

não precisava esperar tanto pra chorar.

bjo dos grandes.
=*

"Falta tanta coisa na minha janela com uma..." vc sabe, né? Inveja!