05 novembro 2007

Não há dinheiro que nos compre

Respondo ao site Comunique-se e ao seu repórter Marcelo Tavela. Leio no site a versão da Globo sobre a não publicação de um anúncio que os feudatários máximos da mídia brasileira pretendiam publicar na edição especial de CartaCapital, com os resultados da pesquisa da TNS InterScience destinada a selecionar as empresas mais admiradas do Brasil. Pesquisa esta, é oportuno sublinhar, realizada com absoluta independência pela empresa dirigida por Paulo Secches, sem qualquer interferência de CartaCapital e da Editora Confiança. Esclareço. Primeiro, todos os premiados da pesquisa foram procurados pelo departamento comercial da revista, inclusive a Globo, vigésima classificada. Segundo, a Globo, ao sabor de uma criatividade digna das Panzer Divisionen da Wermacht, buscou espaço de uma página para um anúncio nitidamente ofensivo. Terceiro, respondemos que não poderíamos sair com aquele, por razões óbvias, mas que de bom grado publicaríamos outro disposto a não nos ofender. Quarto, a Globo achou por bem desistir do espaço, o que é seu direito. Quinto, desconheço o horário em que foi divulgado o post do Comunique-se, onde se lê que fui procurado em vão até a publicação da matéria. Sei, apenas, que o e-mail assinado por Marcelo Tavela, enviado ao meio dia e 48 minutos de hoje, quando não me encontrava na redação, chegou às minhas mãos somente às 4:30 da tarde. Sexto, as declarações de Luis Erlanger, diretor do CGCom, que enfeitam o post do Comunique-se, insistem em expor a sutileza da Divisão Panzer. Diz Erlanger: O que ele (ou seja, eu) sonegou aos seus leitores foi que o setor comercial de CartaCapital entrou em contato oferecendo espaço para o anúncio. Como nós íamos ficar sabendo da pesquisa?” Pois todos os premiados não sabiam da pesquisa, e todos foram contatados no mesmo momento. Elementar, Conselheiro Acácio. Mas os panzer teimam em estacionar em El Alamein. Afirma ainda Erlanger: “Só achamos que a revista que vive em campanha contra a Globo talvez acolhesse a nossa criatividade. Quer dizer que apesar de tudo que eles condenam o nosso dinheiro é bem-vindo?” Não percamos tempo para comentar a criatividade global. Vale acentuar apenas que CartaCapital, ao contrário de inúmeros brasileiros graúdos e dos miúdos sujeitos à doutrinação dos sabujos do poder, não teme a Globo, que ao longo de sua afortunada trajetória esmerou-se em inúmeras campanhas de porte proporcional ao poderio dos seus tanques. A favor do golpe de 1964. A favor do golpe dentro do golpe de 1968. A favor das violências da ditadura de sorte a não sofrer qualquer gênero de censura jornalística. Contra as Diretas-Já. A favor da candidatura de Fernando Collor em 1989. Sistematicamente contra a candidatura Lula em 1994, 1998, 2002 e 2006, sem deixar de recorrer, em diversas oportunidades, a lances de inaudita baixeza, enquanto, como os demais da mídia, trombeteava imparcialidade. Segundo CartaCapital, a Globo, favorecida acintosamente pelos ditadores de plantão, com a inestimável contribuição do ministro da Justiça de Ernesto Geisel, Armando Falcão, e já em tempos ditos de redemocratização, pelo governo Sarney, quando a contribuição decisiva foi a do ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães, e por inúmeros políticos em todas as conjunturas, é a mais perfeita representação de uma mídia de uma mão só, voltada para os mesquinhos interesses da minoria. Se uma pesquisa entre 1.200 empresários e executivos a premia, CartaCapital não se recusa a noticiar o fato, ao contrário de outros órgãos midiáticos nativos, prontos a esquecer os méritos dos concorrentes, grandes e pequenos. Não se tome, porém, o bom resultado obtido pela Globo como demonstração de apoio popular. Não negaríamos espaço a um anúncio que valorizasse o desempenho sem ofender o veículo disposto a hospedá-lo. E se a questão é o dinheiro, não há quantia que nos compre.


Este post foi retirado do blog do Mino Carta, dia 31/10/1981 e reproduzido na íntegra.


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